dia desses em que estava voltando para casa. tinha acabado de sair da aula, o ônibus não demorou a passar. comemorei ter lugar para sentar. que era um daqueles mais altos. no caminho até o assento, avistei um conhecido, o cumprimentei e fui me sentar. depois de acomodada, peguei o kindle para ler.
após algumas paradas, subiu uma senhora que se sentou do lado oposto ao meu, num banco mais a frente. na parada seguinte, a pessoa que estava a minha frente, no banco também alto, desceu e essa senhora correu para sentar no lugar dela. nos dois lugares, não tinha outra pessoa ao lado dela. talvez se mudou por preferência. assim como gosto de me sentar nos bancos mais a frente. talvez. não sei.
ela se sentou, se acomodou e tirou um lanche que foi comendo despreocupadamente enquanto observava a rua.
e fiquei observando seus movimentos, suas expressões e em algum momento vi um frescor. um frescor que ultrapassava a pele enrugada. me demorei um pouco ali. e fiquei curiosa em saber dela. acho que principalmente por ter aprendido que com a idade a gente perde a vivacidade, a gente passa a ser dependente, a gente passa a ser um objeto na mão de outras pessoas que serão "responsáveis" por nós.
voltei para a leitura que estava fazendo. mas foi difícil a concentração. fiquei observando as pessoas que passavam na rua e me perguntando o que faz com que esse frescor saia, seja visto e transcenda qualquer papel, posição, pele, idade, sotaque. o que faz com que ele seja presente em nossas ações, no nosso fruir.
Jessika de Sousa Macedo