segunda-feira, 9 de setembro de 2019

23 de maio de 2019

Ando pensando sobre o vestir camisas de partido, chapas, pessoas. Sinto que hoje as pessoas se esquecem do que realmente estão defendendo e pessoalizam as questões que deveriam ser coletivas. Esquecem do todo, da causa de forma geral, seccionando as questões, indo para os frutos e não para a raiz.
Sinto que os caminhos precisam ser diferentes. Essa política e militância de separação podem até ter avançado, mas e as consequências e sequelas que vêm deixando direta e indiretamente em quem participa e em quem se omite? A gente percebe dentro de próprias frentes, como por exemplo, o feminismo. Cada um entra em seu próprio quadrado e esquecem de olhar para o todo, que todos estão defendendo a mesma causa maior e segrega ao invés de unir. As diferenças não deveriam ser motivo para afastar e sim para entender, compreender, acolher. Que tipo de política temos feito? Onde um grupo pequeno escolhe pelo todo? Como que eu, no meu lugar, com minhas vivências tenho poder para ditar o que o outro deve ou não fazer?
Sinto sim que é necessária a separação desses grupos para a construção de suas fragilidades e querências. Até porque eu posso falar como mulher, de classe média, não heterossexual, mas não tenho como falar no lugar da mulher da periferia. Posso ter conhecimento das causas dela, defender, falar sobre, mas não posso falar no lugar dela. E essa separação é a oportunidade para construção mais completa, menos desigual de uma sociedade. Mas atualmente o que acontece, até mesmo nos espaços de defesa dessas causas, a separação e busca da pauta “mais importante”, apenas da pauta pessoalizada.
Não que eu não reconheça a luta construída até aqui. Mas também sinto que esse formato de hoje é arcaico. Separatista. Frágil e adoece muita gente. Ele não é eficaz, eficiente. Ele é lento e sofrido. Deixa sequelas. E as grandes corporações, políticos etc., já sabem lidar com a nossa forma de fazer política. Talvez por isso a direita, o patriarcado tem crescido e conquistado e está cada vez mais forte. Porque modificaram a forma de fazer política deles. 
Foi necessário em tempos atrás! Foi preciso o embate, o enfrentamento mais duro. Até porque quem esperaria de oprimidos tamanha força, valentia, resistência? Hoje os maiores modelos de opressão são outros. As opressões são as mesmas, mas feitas de forma diferente. Os opressores inovaram e quem recebe a opressão não. Como acabamos com a nova forma de fazer opressão agindo de forma igual?
Será que não é o momento de repensarmos também a nossa forma de fazer política? Repensarmos a nossa forma de conversar com os jovens? Dar a oportunidade deles de fato assumirem, construírem, estarem a frente, trazendo as novas ideias e nós, dando o apoio que é necessário nesse momento de construção?
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Talvez a forma de política esteja falida por comodidade nossa. Em acreditar cegamente em uma construção de ideias e forma de debater e não parar para reolhar o que já havíamos avançado. O que precisaríamos modificar. Essa ideia de se apegar a um modelo é (talvez) falido. Não nos culpemos também. Talvez fosse o medo de inovar e regredir. Voltar a sofrer retaliação. Mas talvez esse seja o caminho - o da mudança. Acredito muito nessa juventude que vem fresca, sem os medos que tínhamos. Nossa luta foi válida! Temos todo o crédito por tudo que foi construído até o momento, mas não pensemos que essa juventude não tem a capacidade de fazer mais. Não tememos em inovar. Deixemos que assumam, como assumimos. Não seguindo os mesmos passos, até porque os tempos são outros. Mas deixemos que tomem os rumos do hoje. Hoje, acreditamos que somos sábios, mas sabedoria também é deixar o outro assumir. Passar o bastão. Orientar e não dizer o caminho que devem seguir. Afinal construímos para nós e para eles e eles têm o mesmo direito para tal. Sabedoria talvez seja dar coragem, incentivo para que façam e façam da maneira deles. Como disse. O passado não é desimportante e ele deve ser olhado e reverenciado. O passado nos mostra também como não agir, talvez. Ainda tenho fé nessa humanidade e nessa palavra que carregamos aqui nesse planeta. Humanos. Talvez estejamos buscando nos sentir pertencentes a essa grande categoria que é tão peculiar, particular e diversa. Seres humanos. Ser humano. Que sejamos então! E que a nossa grande luta seja sempre o bem de todas as espécies!

Jessika de Sousa Macedo