domingo, 26 de dezembro de 2021

Vida

O que percebo é que há vida pulsando 
incessantemente dentro 
e essa vida tem vida própria. 
Ela não para e não inicia 
ao passar por lugares e pessoas. 
Ela está ali, 
disponível, 
exposta. 
Passando. 
E esse corpo que faz parte dela 
experiencia sensações, trocas, outras vidas. 
Percebo que tenho vontade de mostrar 
meu mundo inteiramente para algumas pessoas. 
Percebo que posso mostrar a qualquer pessoa. 
Não há verdadeiramente algo a temer 
nessa história que meu mundo conta. 
É uma história como outra qualquer. 
E me vejo querendo compartilhar 
esse mundo com alguém. 
E me dou conta então que isso 
poderia acontecer com qualquer ser, 
qualquer objeto, qualquer conhecimento. 
Esse querer mergulhar. 
E então porque um ser específico me fisga? 
Eu não sei. 
Porque quero ainda voltar, 
sabendo que posso ter 
e fazer tudo isso em qualquer lugar. 
Então por que você? 
Eu não sei.. 
Eu sinceramente não sei. 
Não sei por que querer voltar a visitar o seu mundo. 
E sinceramente não sei se importa muito 
saber exatamente o porquê. 
Ou importa? 
Acho que a questão é o que quero fazer com isso que me chega. 
Saber o que não quero. 
Percebo então que posso querer me demorar em algumas pessoas ou não.
E saber se me querem também em seus mundos
por perto.

Jessika de Sousa Macedo

sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

reconhecimento

vivi um sonho - poesia
contigo.
tudo que de melhor existia aqui
dentro
vi saindo.
foi expresso
fora
em palavra
em ação 
em não ação.
externado.
vivido.
pôde experienciar
tudo que tinha
naquele momento.
hoje percebo
que tinha mais.
não me deixei atravessar
completamente.
não sei o que seria
se acontecesse.
se nós permitíssemos 
nos atravessar mais um pouco,
atravessar o medo de fazer diferente
daquilo que aprendemos o que é viver.
não sei se o sonho que tínhamos 
de envelhecer lado a lado
passaria a ser real.
mas e o que é mesmo real
para a mente?
em certos momentos acreditei
nesse momento de termos
atravessado até a velhice.
sim.
eu vivi uma vida - poesia.
amei além do que imaginei
ser capaz.
amei ‘até doer’
amei até sumir
amei no transbordar 
amei no silêncio 
amei no caos
amei na paz
e continuo amando.
como não amaria?
pude, ao seu lado, estar mais próxima de mim.
pude estar próxima de ti.
decidindo olhar de frente muitos medos para isso.
como não amaria?
e eu só agradeço por essa
vida - poesia.

Jessika de Sousa Macedo

terça-feira, 7 de dezembro de 2021

Assim como as palavras rimadas que escrevo
não são minhas.
As palavras que digo também não.
Não quer dizer que não me responsabilizo por elas.
Palavras faladas
Palavras escritas.
Fazem parte do que vivo
das experiências que passo 
e
elas estão ali.
Compondo também essa canção -
vida.
Dando cor.
Dando brilho.
Dando graça.

Não são minhas.

As uso.
As pronuncio.
As escrevo.
As vivo.
Elas passam por mim
como um vento vendaval -
brisa.

Passam.

Jessika de Sousa Macedo

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Dança dos elementos

Dentro
Água que corre.
Fora
Fogo que consome
Da terra revestida também.
Criando a possibilidade
Do toque.
Terra que acolhe
Terra que alimenta
Terra que nutre
Terra que sustenta.
Em uma dança
Assim se fez.
O cortejo do início
À meia noite.
Nos rodopios incentivados
Pelo vento.
No descanso sob o céu
Negro
Estrelado.
Um descanso
No peito embrasado.
E assim se fez
A dança dos elementos.

Jessika de Sousa Macedo

terça-feira, 16 de novembro de 2021

Saudade devoradora

acho que estou oca 
e tudo que causa vazio 
aumenta de tamanho. 
existe um buraco 
aqui 
dentro. 
a saudade, nesse momento, 
me chega latente. 
devoro tudo que posso 
do lado de fora. 
em vão. 
o vazio permanece. 
acho que é saudade o nome. 
como irei saciar essa falta? 
como irei preencher esse coração ansiado? 
vou para dentro. 
faço uma visita a meu corpo. 
busco ali a solução 
e eis que, a barriga corresponde. 
fome. 
tenho fome física. 
o grito da barriga denuncia. 
preencho então parte desse buraco.

Jessika de Sousa Macedo

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

/ /

uma pausa para respirar
um ponto.
de chegada
de partida.
algumas vírgulas aqui
e
acolá.
um espaço

para espaçar

esses passos

atropelados.

um respiro
para refrescar
essa caminhada
desapreciada.
já não escuto nada
nem futuro
nem passado.
presente a se desembrulhar.
descanso em movimento.
nesse sossego.
nesse vazio que foi desassossego.
vida pedindo para passar.
pra correr feito rio seguindo
seu curso natural.
um descanso.

Jessika de Sousa Macedo

quarta-feira, 27 de outubro de 2021

quem é a voz ativa na minha história?

às vezes rememorando
lembro de tudo que queria fazer
e não fiz.
vigia aqui.
vigia dali.
medo de transgredir.
espaço, cadê?
apertado.
apertado.
força redobrada pra sair.
força redobrada para ser.
contrato que algum dia fiz
comigo ou com outro ser.
de não ser.
não sei ao certo como foi.
sei o que não foi.
não fui.
não sou.
o que sou agora?
expectativas jogadas
vestidas
postas aceitas, amém.
o que vivo hoje foi o que quis?
foi o que queria fazer?
não sei. não.
foi o que fiz ao quererem.
criei essa realidade.
não sei se a minha,
mas é a que atuo.
não sei se é na que quero continuar
atuando.
e assim rememoro,
releio,
questiono
para não me esquecer.
há tanto aí fora.
há tanto aqui dentro.
viver.
ver.
ser.
a voz ativa.
existir.
emergir.
transgredir.

Jessika de Sousa Macedo

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

Morada

A caminho da ponte 
que me leva para casa. 
Uma pausa no coreto que 
meu olhar faz levantar. 
A copa das árvores que balançam 
parecendo dançar. 
Parecendo espanar as nuvens 
que ali passam. 
Um respiro em meio a esse 
trânsito maluco do centro da cidade. 
O antigo e o novo 
se encontram ali. 
A calma e a ferocidade também. 
O verde e a fumaça - oxigênio gás carbônico. 
De volta. 
A caminho da ponte 
que me leva para casa.
Ligando duas cidades diferentes.
Assim os antigos moradores 
diziam.
Numa cidade ou noutra.
Aqui ou acolá.
Há lar.

Jessika de Sousa Macedo

sábado, 9 de outubro de 2021

Pedra bruta

Não
Eu não quero acolhimento.
Só me deixa escorrer.
Não barra o meu
movimento líquido
que desliza neste chão que
te molha os pés.
Não seca o que já foi
Seca.
E hoje transborda em
vida em forma
líquida.
Fluida.
Transparente.
Não tapa aquilo que vê.
Vê.
Olha.
Aprecia como uma escultura
que antes era pedra bruta.
Toca.
Passe os dedos pelas bordas,
pelas elevações e
sente.
O que a tua pele registra no peito?
O que teus olhos registram na mente?
O que os teus pés sentem?
O que tudo isso te diz?
Sente.
E transborda o que sente.

Jessika de Sousa Macedo

quinta-feira, 30 de setembro de 2021

All

O encontro com você é um deleite.
Me lembrou daqueles filmes mexicanos
exagerados em sua superfície
e delicados se olhado mais de perto.
Belos às suas maneiras.
Talvez seja uma projeção?
Talvez sejam os resquícios da primeira impressão.
Mas não vim falar sobre isso.
Estava aqui pensando nos bons ventos
que me fizeram encontrar você.
E na minha ignorância que não me permitiu te ver
em alguns momentos.
Encontrar com você nessa vida
é um verdadeiro oásis.
É te sentir presente, atenta ao momento.
É se sentir sendo escutada e um convite para
também estar presente ao momento.
É te observar prestando atenção a cada detalhe do
que acontece ao redor e respondendo ao todo com 
todo cuidado.
É se surpreender com as suas respostas frente
a um afeto.
Na habilidade alquímica dos sentimentos,
extrai e oferece o melhor de você.
O cuidado. O toque e presença sutil nos lugares.
A atenção. O olhar atento aos detalhes.
O carinho.
Não percebo essas descrições estáticas.
Mas as percebo em suas ações sem pudor.
E a naturalidade demonstrada também
do outro lado real, humano.
Ambos trazem brilho.
Me fazem sentir real.
Sem utopias.
Não que não haja sonhos.
Me trazem a apreciação daquilo que se é no momento.
-
E é lindo te ver e viver o mesmo ambiente
em que você está.
Eu queria deixar registrado em algum lugar
a beleza que é o encontro com você.
Eu queria que as pessoas sentissem a beleza
dos seus olhos
que são como a imensidão transbordante
de amor.
Eu queria falar também sobre o seu sorriso sutil
tão dissonante de sua gargalhada espalhafatosa
que preenche o espaço com um
sonido gostoso.
Eu queria falar com beleza sobre o seu toque,
sobre a sua presença.
Eu só queria deixar isso registrado em algum lugar.
Soltar e deixar o vento levar aos quatro cantos
para que as pessoas soubessem quão belo é
o encontro com você.
E para que esse vento chegasse por aí também
como um retorno, um beijo suave em agradecimento
a tudo que fez de bem.

Jessika de Sousa Macedo

sexta-feira, 17 de setembro de 2021

inominável

Música: ú (Dani Black)

isso me desassossega
mexe com as entranhas de meu ser
nu
exposto
se debatendo até o total silêncio
da voz
do corpo
que te olha
e vê a imensidão
o amor.
esse corpo parado
a te admirar.
admirar esse ser
que também é amor.
se aproxima a um cortejo
um pedido para uma dança.
mas não tem música tocando fora.
há apenas a vibração do
mistério do movimento.
do momento.
nos concede essa dança?

Jessika de Sousa Macedo

quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Humanamente imperfeito

A perfeição está além da estética.
A perfeição talvez esteja na sincronicidade dos
acontecimentos.
A perfeição talvez seja um pequeno detalhe.
Uma delicadeza em traços finos
Que nem sempre são retos.
A perfeição tá muito além de aparências.
Tá muito além de corpos.
A perfeição tá na sutileza
De cada detalhe
De cada curva.
Tá no olhar.
Se encontra no zoom
No zoom de uma pupila dilatada
De uma pele arrepiada
De narinas abertas e
Ouvidos atentos.
A perfeição..
Que perfeição?
Perfeição é muita subjetividade
Talvez seja vaidade
E ela não é concreta.
A perfeição é de carne
É de gente
Tem dente e nariz.
A perfeição é aquilo que vejo
Não o que se é.
Ou seria o contrário?
A perfeição pode sumir
Quando o outro vê.
O que eu vi perfeito
Algum outro vê?
Por que buscamos tanto essa perfeição?
Se ela é tão particular 
Tão singular
E tá nas pequenezas.
Não que seja pequena
Talvez um olhar atento.
Um olhar..
Um olhar também é subjetivo 
Ele é pessoal
Não plural.
Mas eu posso mostrar a minha perfeição 
Para o outro.
Não que aquilo passe a ser perfeito
Para ele também.
Mas talvez ele se aproxime (veja) daquilo
Que é perfeito para mim.
E eu me aproxime (veja) daquilo
Que é perfeito para ele.
Perfeito.
Perfeito!
Chegamos num acordo.
Que não precisa necessariamente ser o
Fim.

Jessika de Sousa Macedo

---
Perfeição. Áudio transcrito com o encontro de duas realidades passada pela confusão. Do encantamento ao perceber esse mundo, o seu funcionamento orgânico, da beleza desse funcionamento e das criações que aqui existem. De tudo. Que iniciou, ao menos de forma consciente, com o estudo da ciência, no colégio. E do congelamento ao perceber um padrão que achava precisar entrar para aqui existir. A perfeição, nessa escrita, é disso que se é. Disso que aqui existe. Dessa beleza vista a olhos nu e vista no sentir, no observar do macro ao micro, do micro ao macro. Dessa criatividade inalcançável por essa minha mente de tão grande, simples e complexa. A confusão ao trazer o olhar-experiência pessoal-subjetivo para o coletivo como um regramento. O colocando como o perfeito a ser seguido. Como se precisasse ser perfeito. Como se precisasse seguir algo. E o encontro disso que se é com aquilo que se obriga ser. Desse reconhecimento transformando a obrigação em convite desinteressado para se ver e ver.


quarta-feira, 11 de agosto de 2021

Por esses tempos tenho pensado no luto. Talvez pelo período pandêmico, talvez por ter tido algumas perdas, talvez por mudança de casa e não mais compartilhar esse espaço com outra pessoa. É uma temática que tem me sido tão próxima (acredito que não somente para mim). E hoje entrei em contato com a palavra desistência na mesma frase da palavra recomeço. Isso de alguma forma mexeu comigo e por essa inquietação, resolvi escrever e observar até onde vamos.
Acho que o que me fez fazer esse movimento foi por apreciar essa temática como mais profunda e por perceber uma simplificação banal. Não percebo incoerência nas duas palavras estarem na mesma frase. Essa não é a questão. Mas a banalização. Entendo que ao reiniciar algo, você parte de algo que já existe. Percebo que não há exatamente uma desistência, o abrir mão, não prosseguir com algo. Talvez seja em alguma parte. Por exemplo, tenho uma empresa e percebo que não estou conseguindo ter alcance a possível comprador. Posso mudar a forma de divulgação, por exemplo. Poderia dizer que há uma desistência da forma antiga de se fazer divulgação, há um reolhar, um descobrir novas formas. Vendo essa desistência como forma de mudança, de uma tentativa de resolução.
Talvez o que tenha me incomodado foi ter lido a desistência como tornar as coisas como concluídas. Me pergunto se aqui há de fato algo que tenha sido concluído? Até a morte física de um ser, me pergunto se é sinal de conclusão? Observo mais como uma modificação, uma renovação (aqui a outra palavra) daquilo que se vivia. Não vejo as coisas como concluídas de fato. Literalmente. Talvez essa confusão venha por pessoalizar a situação como um todo no lugar de olhar para o fato, a forma, a relação que está se abrindo mão. Vejo sendo colocado o desistir de uma relação como o desistir de uma pessoa. Como se fosse possível fazer uma exclusão dessa pessoa. Por exemplo, tenho uma relação de amizade ou um casamento e decidimos ou uma das partes decide romper. Podemos nos distanciar, não ter mais contato, mas as pessoas continuam existindo fisicamente, emocionalmente, mentalmente etc. Como se exclui, joga fora algo ou alguém que nasceu neste planeta?
Percebo que abre margem para ir desistindo, jogando fora tudo que não mais funciona. No lugar de trazer um novo olhar, uma modificação, a resolução melhor para os envolvidos olhando as necessidades do momento a cada momento, soltando o fixo, o quadrado. Percebo esse jogar fora como acumulação. Como o lixo que a gente produz e descarta no lugar de dar uma nova utilidade. Seja a reciclagem, seja a matéria orgânica para adubo. É nesse ponto que observo não haver conclusão real. Pergunto então por que procurar por ela? Se não resolvo aquilo que não está fluindo dentro de casa, da aldeia, da sociedade, de forma consciente, se vou acumulando, o que aconteceria? Será que optar por excluir, abrir mão vem do medo do que poderia vir a ser? Desse recomeçar?

Jessika de Sousa Macedo

quinta-feira, 5 de agosto de 2021

Desencontro?

Talvez a vida seja um eterno
Encontro
Com a gente.
Não com o outro.
Talvez o outro nos faça
Caminhar por esses lugares.
Seja com uma música,
Seja com um jeito de fazer carinho,
Seja com a forma de falar,
Seja com a forma de olhar.
Contato.
Talvez por esse motivo queremos estar
Perto,
Longe.
Dependendo daquilo que nos ajudou
A lembrar.
E aí me pergunto:
Como ajo com algumas diferenças
Com as pessoas?
Por que me sinto confortável com essa
E desconfortável com aquela?
O desconforto é com elas ou com o conteúdo?
Por que ajo com aquela e
Travo com essa?
Afetos?
Em quê isso me afeta?
Expressão?
Saber dançar no furacão?
Talvez.
Mas acho que não apenas isso.
Em todo lugar que olho
Tem parte minha.
Em toda ação que faço
Tem eu.
Estamos sós, então?
E o outro?
Onde fica?
Nesse encontro?
Nesse outro espaço vazio
Criado pelo contato?
Nessa oportunidade dada de descobrir junto-separado
Mais uma parte nossa?
Talvez.
Mas isso já é outro capítulo. 

Jessika de Sousa Macedo

quarta-feira, 4 de agosto de 2021

Palavras

Trecho do livro “A bailarina de Auschwitz”

E quando se escuta que não se pode amar?
E quando se escuta que não pode ser mar?
Palavras que chegam e se perdem por entres as águas.
Presentes em cada onda.
Sem a devida atenção,
Deixadas em rastro na visita às areias.
Todos recebendo essa desatenta atenção.
Eu, refletindo o que me afetou.
Ventos vindo mais uma vez do leste
Formando furacão.
Tsunami trazendo do fundo aquilo que não olhei.
Agora boia.
Na minha frente palavras que pensei ter afogado.
Que pensei ser sem valor.
Agora boia na minha frente
A causa de tanta dor.
Na calmaria pós tempestade
Agora olho.
Agora observo
Essas palavras vindas
E que me afetou.

Jessika de Sousa Macedo

---
As coisas acontecem e às vezes a gente nem se dá conta. As experiências são como vários braços de rio desembocando na gente ao mesmo tempo. Um mar recebendo água de todos os lugares e, quem vê de fora fala mar, enxerga a superfície da água.
Às vezes algumas águas chegam com detritos que às vezes afundam ou expomos. E às vezes nem vemos o curso que damos a esses detritos por nem perceber sua presença ali.
Esse automático em nem verificar se ferida formou. Enquanto o sangue jorra, sai manchando tudo por onde passa e em você, apodrece, fede.
A ferida que nem se olhou.
Tô tentando sair do subjetivo e trazer as palavras para o objetivo, mas ainda parece haver dor incessante - identificação.
Só quero dizer que cuide, por menor que se aparenta. Apenas olha, observa, averigua esses detritos que te afetam. Tenta dar encaminhamento consciente para não transbordar aquilo que pensa que passou.
Cuida desses detritos que até você chegou. Às vezes vem de longe. Às vezes é antigo. E cuida também de cada luto seu que por ele passou.

quinta-feira, 29 de julho de 2021

Pinball

No meio
No centro dou a partida
Inúmeros caminhos que
consigo visualizar onde (pode)
dá(r).
Cada direção mirada, sentimento
diferente no 
peito.
É só que é meio estranho ficar aqui parada.
É só que é meio estranho não sentir nada e
sentir tudo.
O peso vem
O peso vai.
A medida vai sendo dosada pelo
caminho,
pela estrada.
Depressão a vista,
belas paisagens fora.
Carburador entupiu?
Todos para fora.
Para fora da estrada ou
vão querer encarar?
Cada estrada, um estado.
Hora consciente 
Hora largado.
Hora objetivo
Hora extravasado.
É difícil se encaixar,
Se dizer algo,
Amém!
Cantando a minha vida
Vou no ritmo da batida.
Puxo um assobio
para acompanhar,
um pandeiro pra
descontrair.
Escola de samba passou.
Passei.

Jessika de Sousa Macedo

quarta-feira, 28 de julho de 2021

21/8/2020: 
pensando sobre religião, intolerância

Parece que estamos mais próximos das paranoias.
Tipo, dando zoom.
Como se antes víssemos o outro muito distante,
como ameaça desconhecida.
Saímos para saber se era mesmo real e dominá-lo
para deixar de ser uma ameaça.
Trazendo ele, obrigatoriamente, para dentro do nosso(?!),
meu mundo,
minha linguagem,
cultura,
deixando de ser um desconhecido.
Vi que não era possível dominar todos,
pois vi que o mundo é grande e não estava dando muito certo.
Encontrei pessoas que tinham energia para me barrar.
Cai na fronteira estruturada,
no limite do outro.
Minha lupa aproximou um pouco dos continentes e
foi aproximando mais:
países,
cada vez mais fui vendo que o outro é desconhecido,
o coloco no lugar de ameaça.
Cada vez mais aproximando:
cidades,
bairros,
ruas,
casas
até chegar em mim.
E me vi como desconhecido também.
Como fiz aquilo?
Como fiz isso?
Não me reconheço.
Me coloquei no lugar de ameaça.
Não me entendo,
não consigo – não tento, construo muro – tecer
um diálogo comigo e com o outro.
Me aproximar.
Destruo,
é mais cômodo.
Tecer requer trabalho,
energia.
Sem disposição.


Por que vemos o caminho da destruição como única opção?


Jessika de Sousa Macedo

quinta-feira, 22 de julho de 2021

falível

Música: Vivo (Lenine)

veja, não tenho como garantir algo.
gostaria poder.
não posso.
não há garantias.
não tenho como te oferecer sempre
isso ou aquilo.
nem a mim posso.
achei que podia.
achei que ao menos em mim teria
um lugar totalmente seguro.
me pergunto como?
se constantemente minhas palavras me traem.
se minhas ações fazem o que não gostaria..
como dar e querer garantias?
para quê ficar correndo atrás de uma ilusão?
para quê ficar dando voltas
como um cachorro correndo atrás
do próprio rabo?
 ...
a única coisa que sei
é que dou o meu melhor.
meu melhor no momento.
como confiar então?
como confiar no outro?
em suas palavras?
em mim?
não sei se há como confiar
nesses resultados.
por que continuar acreditando, então?!
...
não é 'nas palavras' que tenho confiança.
não é 'nas ações' que confio.
Percebo a confiança vindo
do constante em fazer
o melhor que se pode.
e então confio.
e então reconheço.
me vejo.
de forma real.

Jessika de Sousa Macedo

Estive pensando sobre isso, de se curar de você. Me levou a questionar o que há em mim de verdade a ser curado? Percebi algumas ações, falas, pensamentos que por vezes escondo, tenho vergonha, nego. Mas se tratam de pensamentos, falas e ações, não de mim. Foi nesse ponto que parei para olhar. 
Quando escutei pela primeira vez esse discurso de se curar de você, algo em mim concordou com o que estava sendo dito e reconheceu que ali poderia existir uma verdade. Talvez por trazer essas ações “tortas”, reconhecer essa dualidade, essa face de duas moedas, o amor e o ódio, a inveja e a generosidade etc. que existem aqui e que não falamos sobre.
Apenas colocamos uma no que é certo e a outra no errado. E olha, não estou aqui na intenção de entrar em moralismo, mas em olhar o que existe. Talvez essas categorizações, essas criações de “x” como aceitável e "y" como aquilo que precisa ser excluído, nos leve a também achar que somos esse binarismo. Que ou estamos no grupo do certo ou do errado, do bom ou do mal, do doente ou do saudável. Como se não existissem nuances, diversidades em mim, em minhas ações. Talvez isso de categorizar me distancia da oportunidade de olhar e reconhecer esse universo por completo. De olhar com sinceridade para essas ações e o que elas causam em mim e no que existe fora de mim. E talvez, desse aprendizado de categorização, venha esse sofrimento, isso de achar que tem algo errado em mim e em querer me curar de mim.

quinta-feira, 15 de julho de 2021

Prosa

Assobio
Assobio
Assobiou.

Olha lá
Olha lá
Quem chegou.

A cachorra latindo
A receber
Aquele ser que acaba
De aparecer.

Ei, como foi a viagem?

Ah, foi divertida!
Teve belas paisagens!

Se aprochegue
Venha dar um tempo.
Descansa essa mochila
Pegue um assento
Um café vai bem?
Vamos prosear.
Como é que tá a vida do lado de lá?

Tá daquele mesmo jeitinho
Sem muita mudança a chegar
Mas me diga você
O quê que te faz assobiar?

Jessika de Sousa Macedo

sábado, 10 de julho de 2021

E por falar em saudade

Preciso me alevantar
A vida há de caminhar.
“O tempo não para”
Já dizia o cantô.
O tempo que já passou
E a gente aqui
A bater com a cabeça.
Tempo
Tempo
Tempo
Tempo.
Deixe o tempo de lado
Vá viver a vida
Deixa, que a saudade passa.
Às vezes volta.
É disso que a saudade é feita
Desses momentos
Feitos e desfeitos.
Desses momentos transcorridos
Nesse lugar que chama
Peito.
É um olhar amoroso
É um olhar caloroso
Que você encontra
Aqui
Acolá.
Pega isso
Bota no bolso e
Continua a caminhar.
Faz uma pausa.
Canta uma prosa.
Troca uns afagos.
E o tempo você solta.
A saudade?
Essa você anuncia se chegar.
E solta.

Jessika de Sousa Macedo

quinta-feira, 8 de julho de 2021

Desencontros do encontro

Full Performance (Eydís Evensen)

Estava um caos adormecido.
Quase me perdendo em silêncio, enfim.
Um acontecimento veio para me fazer olhar, parar.
Colocou mais lenha em um fogo que estava para se apagar.
Colocou mais lenha na fogueira.
Que começou a estalar.
Ei, olha o fogo, se aquece.
Só tem o ruído da madeira.
Não quero olhar.
Calor.
Agora sinto o calor.
Não sabia que estava com frio.
O meu fogo a se apagar.
Ossos voltando a se esticar.
E agora vejo aquele lugar frio para onde sempre retornava.
A densidade me deixava imóvel.
Paralisada.
O seu calor me fez lembrar do calor.
O seu amor me fez lembrar do amor.
A sua permanência me despertou curiosidade.
Desejo.
Movimento.
Caminhar.
Como é mesmo que se dá o primeiro passo?
Do agora, do lugar que parei de me olhar.
Me estabanei, patinei.
Reaprender.
Relembrar.
Continuei a caminhar.
Agora vejo o fogo.
Agora estou aquecida.
Para lá, não mais quero voltar.

Jessika de Sousa Macedo

quinta-feira, 1 de julho de 2021

Obstáculos

é um tal de
estica e solta
estica e solta
estica e solta
que uma hora
pode arrebentar.
se vai acertar alguém?
se vai voar?
que direção poderá tomar?
frente, trás
direita, esquerda
são perspectivas.
a questão é
que responsabilidade
tá sendo colocada aí?
tem comunicação?
tem cuidado?
tem carinho?

Jessika de Sousa Macedo

sexta-feira, 4 de junho de 2021

Mergulho

Nada
Nada até mim
Ultrapassa todas as suas conclusões
e me veja além delas
Estou ali
logo ali
Nada mais um pouco
se aproxima
e me veja além
de todas as suas bagagens
Me conheça
Me reconheça
Aproxima
meu íntimo e o seu
meu coração e o seu

Jessika de Sousa Macedo

sexta-feira, 2 de abril de 2021

Dizeres

Vácuo.
Buraco.
Distância.
Palavras que se desfazem antes de chegar ao
Destino.
Uma conversa incomunicável
Regada a sofrimentos do passado
Que não passaram.
Estão nas palavras
Vivas
Com vida e
Barram
A
Mensagem.
Que não chega.
Chega!
Chega.
Se achega
Só mais um pouco.
Pode ser devagar
Para não machucar.
Ei, mas deixa eu te falar.
O sofrimento não é real.
Me escuta só um pouco.
Deixa eu te explicar.
Só um pouco.
Estava aqui pensando nesses dizeres
Da dor.
Mal-entendido.
Dizeres não entendidos.
Vamos olhar esse borrão
Falar mais claro
Mais reto
Papo reto.
Que acha?
Ei, só vou.
Se você vier também,
Não sei se enxergarei.
Solta um grito.
Me diz.
Vem.
Vai.
Para.
Grito daqui também.
Só para e tenta me escutar falar.
Estou aqui
Tentando também te
Escutar.
Vamos colocar a voz no
Lugar de
Farol?

Jessika de Sousa Macedo

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

Delírio Político

aparência
o trono
a cadeira
aquele que seguimos
aquele que nos representa (?!)
representa em quê e para quem?
representa para quê?
uma boa imagem aqui
sorrisos *flash*
preciso de outra aqui
pose
mais flash.
a barragem!
o fogo!
o ar!
que barragem?
que fogo?
que ar?
preciso de dinheiro
talvez uma publicidade
preciso de uma imagem
que acreditem
que comprem ela.

vidas vão ficando para trás
continuamos a correr atrás de vida
(ou da vida?)
ninguém para
nada de parar
ei, só um minuto.
posso respirar?
.
para onde você está indo?
está correndo de quê?
de quem é aquela imagem?
e aquele lugar que tem nela?
é de verdade?
onde você vive?
como você mora?
e-eeeei, para onde você vai?

(inspiração: rompimento das barragens, queimadas, George Floyd, Covid-19)


Jessika de Sousa Macedo

A grande fantasia

O outro não é real
Eu não sou real
E ainda assim sou eu.
O outro existe a partir da projeção
do meu olhar.
Eu existo a partir de uma miragem
no deserto.
Quando toda areia escoaria e ficaria
o nu?
A terra nua
Despida de toda fantasia.
Me dá um pouco de água
Para recobrar os sentidos,
Sair do febril,
Acordar desse delírio.
Aos poucos recobrar os sentidos.
Voltar à realidade daquilo que somos.
Oi?
Não te escuto direito.
Oi!
Ainda a vejo em bor-rão-((Olá)).

Jessika de Sousa Macedo