quarta-feira, 10 de agosto de 2022

Música: Você sorrindo (Dani Black)


você toca no mais profundo 
do movimento da dor.
- transformação -
talvez daí venha a dificuldade 
em me dizer.
só enxergava o duro
deixando a criação de lado.
as possibilidades de ver além 
daquele concreto
e
o que dela poderia vir a ser.

e no som.
grave,
vibrante.
na pele.
suave,
delicado.
ficava à flor da pele.
surda
a cada contato.

a cada contato,
ondulações gigantes,
sem controle.
levando o que tivesse pela frente.
o vento breve de uma inspiração profunda 
não eram capaz de suavizar.

claro.

jorrar como vinha para mim
não era opção.
duro demais.
profundo demais.
águas que nem eu
ousava mergulhar.

e essa mania de querer colocar
o outro em meu lugar
de ação sem nem 
perguntar.

daqui,
eu não desejaria nada menos do que isso. 
que a sua vida seja sua. 
que a minha vida seja minha. 
e que talvez possamos nos encontrar 
nesses mergulhos,
nessas criações.
e voltar.

Jessika de Sousa Macedo

sexta-feira, 5 de agosto de 2022

Vivo em constante contato com a morte. 
Não sei se ela me seduz. 
Se ela me testa. 
Sempre sinto sua baforada em meu rosto. 
Poderia dizer que é gélida. 
É quente. 
Quente como sangue fresco. 
E ela me ronda. 
Talvez esperando meu passo. 
E esse é o único flerte que sei o fim. 
Para quê dar o primeiro passo. 
Olho. 
Observo. 
Vejo o que vem de lá. 
Apenas assisto. 
Aproveito a brincadeira do flerte sem iniciativa. 
Como espectadora. 
Prefiro esperar que dê o primeiro passo.
Prefiro acompanhar todas as jogadas. 
Para quê antecipar a jogada? 
Para quê acabar com a brincadeira antes do tempo? 
Não. 
Prefiro esperar todo o jogo acontecer. 
Aproveitar. 
Rir. 
Chorar. 
Gritar. 
Me calar. 
Gemer. 
Respirar até o último fio de ar.

Jessika de Sousa Macedo