sábado, 10 de dezembro de 2022

pele adormecida

um belo dia de sábado 
despertei cedo
como a muito tempo não fazia.
acordei e logo fiquei sonolenta e
chateada por não conseguir levantar.
mais uma vez.
mal sabia eu que naquela
manhã meu corpo acabara de despertar.
minha pele voltara a respirar.
como a um tempo longíquo.
eu, adormecida por aquela manhã gostosa
e meu corpo despertando
de um sono profundo reparador.
sentindo tudo que o tocava.
trazendo a memória todos os toques.
até aqueles que julgava não poder
mais sentir.
e lá estava ele.
despertando naquela manhã de sábado
de (dez)embro.

Jessika de Sousa Macedo

sexta-feira, 25 de novembro de 2022

asfixia

quem és tu, ansiedade?
o que tanto buscas?
que pressa é essa que passas
por aqui?
para um pouco.
senta.
respira.
o que tá vendo do lado de fora?
o que tá sentindo do lado de dentro?
tem medo de algo?
tá fugindo de algo?
o que acontece por aí?
não precisa me responder.
mas diz pra você.
do quê?
o quê?
senta aqui.
respira.
o que cê tem se contado?
quais histórias diz sobre você?
quais histórias diz para você?

Jessika de Sousa Macedo

sábado, 19 de novembro de 2022

Universo das palavras

onde tudo quer ser dito
e nada se diz
feito céu nublado
nuvens carregadas que passam
sem cair uma gota d’água.
só ameaça chuva
sem chover.
feito copo que transborda
e não derrama uma gota
se quer.
hoje estou me sentindo assim.
cheia.
querendo esvaziar.
e sem saber por onde.
pelo corpo?
pelas ações?
pelas palavras?
faladas.
escritas.
por onde?
e o silêncio se faz presente
no barulho.
nesse ruído quase
palpável.
tangível.
dançante.
me tira pra dançar, barulho?
deixa eu te escutar.
deixa eu te transpirar.
colocar para fora
aquilo que precisa dizer.
deixa eu te escutar.

Jessika de Sousa Macedo 

sexta-feira, 18 de novembro de 2022

17/3/2021
O que percebo estando aqui. Que as regras, as culturas, os livros talvez surjam, existam para que consigamos viver aqui. Talvez para entender que somos diferentes, que mudamos a todo tempo em algum ou alguns aspectos, que as coisas são cíclicas. E vejo que as culturas, livros, estudos que seguem de alguma forma, por exemplo, a ciclicidade do tempo tenha se inspirado e não se separado da natureza, de tudo que existe aqui. Falo isso observando comunidades, os animais de poder, a astrologia, os arquétipos de forma geral, a psicologia, psicanálise, algumas medicinas indígenas (falo algumas por não conhecer todas), a bíblia e tantos outros. Observo como um banquete para você escolher se quer se alimentar de algum, se quer degustar, se quer se alimentar de tempos em tempos em um, em outro. Bom, o prato você quem monta. E vejo também um querer impor dieta para o outro, negar a fartura, a possibilidade de escolha dentro daquilo que faz sentido. Cada cultura tem uma especificidade, cada grupo tem um tipo de vivência, cada pessoa tem uma realidade. É difícil e invasivo ditar de cima para baixo uma regra, a sua regra para uma pessoa, para um grupo ou grupos. Achei que a ideia de um banquete fosse de encontro, de passar o prato, uma panela para o outro se servir quando solicitado, para trocas, conversas, comunhão. Acho que todas as opções são válidas, desde que não te coloque ou a coloque como regra, como ditadura, como única realidade. Se você decide ter uma relação com uma cultura como forma de ditadura, é sua escolha própria e individual. Acho importante lembrar que a partir dessa decisão, você também não tem o direito de colocar outro ser para viver com você essa regra. Ela é individual, é subjetiva, é regra solo. Já temos as regras sociais, que partilhamos com a intenção da boa convivência no coletivo. Vejo uma tentativa de misturar áreas que funcionam de forma diferente. O objetivo (como regras sociais, leis) funciona de uma forma e subjetivo (como escolhas de vida individual, cultura) de outra. E olha só que interessante, elas não precisam se anular para funcionar. O mundo é grande e existem e deve existir sociedade que vive de forma aproximada daquilo que você acredita. Enquanto escrevo, penso que talvez sejam coisas óbvias e daí lembro que pessoas têm diferentes vivências e que o óbvio não é tão óbvio assim. E ele se apresenta de diferentes formas o que, talvez, o torne menos óbvio, risos.
Uma coisa que observo em todas elas. Uma tentativa de harmonia. Nos arquétipos, na astrologia, na bíblia, nos povos originários, nos povos tradicionais, na psicologia, na ciência (com a busca por entender os diversos organismos e com a criação). E o que vejo também é o efeito contrário ao eleger uma supremacia. E o que acho engraçado é que dentro delas já informa que a harmonia vem com o funcionamento de todos os aspectos que compõem aquela cultura, grupo, religião. Informa que excluindo, abafando, cancelando um ou mais de um aspecto o resultado é o adoecimento. Por exemplo, no catolicismo há os 10 mandamentos, na astrologia os 12 signos, mais XX planetas e XX casas, na psicologia também são observados aspectos, cada cultura tem seus rituais que são feitos de forma completa, o próprio corpo humano para ser saudável precisa que todos os órgãos estejam em funcionamento. Se um aspecto não é levado em consideração, se elejo apenas uma parte do corpo para cuidar o corpo inteiro adoece. Inclusive aquela parte que elegi. Acho que uma das perguntas feitas ao longo da história foi a de como viver em harmonia? Acho interessante olhar para todas as respostas que cada geração, que cada realidade deu e trabalhar em cima delas.
E, contribuindo um pouco com esse trabalho, venho lembrar que a exclusão e a supremacia são caminhos extremos. São extremos que vivemos e estamos vivendo e que trouxe e traz guerra, mortes não naturais e não trouxe harmonia (alquimia, equilíbrio, meio).

Jessika de Sousa Macedo

terça-feira, 4 de outubro de 2022

Kairós

não,
eu não sei o porquê
que ocupou mais espaço interno
que imaginei alguém poder ocupar.
assim.
talvez a psicologia
ou a espiritualidade
ou os karmas
ou sei lá quem ou o
quê
expliquem.
e eu
não tenho conhecimento
de nada disso.
e nessa altura do campeonato
em quê me valeriam
esses dizeres?
essa minha mania de querer
racionalizar tudo.
daqui
somente escuto.
de dentro pra fora
de fora pra dentro.
o que meu corpo diz
o que sinto ao assistir
você se mover
e as circunstâncias
que nos aproxima mais
que o esperado.
só escuto.
escuto o desejo também
e o afirmo.
sim.
te desejo.
sim.
te sinto.
sim.
me interesso.
sim.
te quero parceria.
sim.
brilho ao te saber.
e dentro do lugar que me cabe
escolher.
eu escolho
permanecer.
aqui.
ao teu lado também
ser.

Jessika de Sousa Macedo

quarta-feira, 28 de setembro de 2022

Batuque

Sentada, em minha companhia, estive
na intenção de integrar tudo
o que foi.
Todas as negações do sentir
Todas as invalidações do corpo
que a mente aprendeu.
E repetiu.
E silenciou.
E estressou.
E quase colapsou.

E o que ficou.
Distante.
Queimando.
Ardendo.
Gritando.

Tive medo dessa luz 
que me queimava,
que ardia pela
intensidade
incandescente.

Tive medo da força
que é assumir o que sinto
que é validar todo meu corpo.

Aprendizados.

E cá estou eu
me queimando em
palavras.
Nesse crepúsculo.
Nesse momento zero
Marcando o
fim
e o
início
desse (re)conhecimento.
Banhada em lágrimas
indicando a saudade,
a felicidade do
encontro.
Que fez o coração
vibrar
Em um sonido
tranquilo e
acalentador de
amor,
Amor.

Jessika de Sousa Macedo

quarta-feira, 10 de agosto de 2022

Música: Você sorrindo (Dani Black)


você toca no mais profundo 
do movimento da dor.
- transformação -
talvez daí venha a dificuldade 
em me dizer.
só enxergava o duro
deixando a criação de lado.
as possibilidades de ver além 
daquele concreto
e
o que dela poderia vir a ser.

e no som.
grave,
vibrante.
na pele.
suave,
delicado.
ficava à flor da pele.
surda
a cada contato.

a cada contato,
ondulações gigantes,
sem controle.
levando o que tivesse pela frente.
o vento breve de uma inspiração profunda 
não eram capaz de suavizar.

claro.

jorrar como vinha para mim
não era opção.
duro demais.
profundo demais.
águas que nem eu
ousava mergulhar.

e essa mania de querer colocar
o outro em meu lugar
de ação sem nem 
perguntar.

daqui,
eu não desejaria nada menos do que isso. 
que a sua vida seja sua. 
que a minha vida seja minha. 
e que talvez possamos nos encontrar 
nesses mergulhos,
nessas criações.
e voltar.

Jessika de Sousa Macedo

sexta-feira, 5 de agosto de 2022

Vivo em constante contato com a morte. 
Não sei se ela me seduz. 
Se ela me testa. 
Sempre sinto sua baforada em meu rosto. 
Poderia dizer que é gélida. 
É quente. 
Quente como sangue fresco. 
E ela me ronda. 
Talvez esperando meu passo. 
E esse é o único flerte que sei o fim. 
Para quê dar o primeiro passo. 
Olho. 
Observo. 
Vejo o que vem de lá. 
Apenas assisto. 
Aproveito a brincadeira do flerte sem iniciativa. 
Como espectadora. 
Prefiro esperar que dê o primeiro passo.
Prefiro acompanhar todas as jogadas. 
Para quê antecipar a jogada? 
Para quê acabar com a brincadeira antes do tempo? 
Não. 
Prefiro esperar todo o jogo acontecer. 
Aproveitar. 
Rir. 
Chorar. 
Gritar. 
Me calar. 
Gemer. 
Respirar até o último fio de ar.

Jessika de Sousa Macedo

domingo, 17 de julho de 2022

espaço

“Que se não der para adiantar
Te atrasar não vou
Se não der para melhorar
Piorar não vou”

não queria tomar espaço na tua vida
mas queria fazer parte de algum.
e hoje, sendo sincera comigo,
percebo que nunca fiz parte de qualquer espaço 
dentro de seus dias.
nenhum.
não sei pq tanto tempo me iludindo 
acreditando que fizesse parte de algum.
e não que quisesse ter algum lugar
de importância ou exclusividade.
não mesmo.
mas sim,
que em algum lugar, momento fizesse parte.
e percebo, cada vez mais nitidamente, 
que essa não é a realidade.
e tudo bem, sabe!
eu só quereria ter sabido disso antes..
não que o seu lugar mudasse por aqui.
mas a minha atitude mudaria por aí.
não demandaria tanto de um lugar que não me cabe.
pra quê?!
ilógico isso.

Jessika de Sousa Macedo
 
—-
acho que quando se entra nesse lugar de esperar que o outro desempenhe um papel - o que você espera -, se afastando daquilo que a realidade mostra. como, por exemplo, uma filha espera que um pai aja de uma determinada maneira. seja por ser um papel socialmente descrito em passos, seja por uma própria fantasia do que seria esse papel, seja por uma necessidade própria, enfim. e dentro dessa cegueira, afastada da realidade, fica difícil ver o real lugar que estamos, que ocupamos dentro daquela realidade, naquela experiência. e o outro, também afastado, fica difícil um possível equilíbrio, uma possível clareza, um possível diálogo - de querer junto, de querer afastada. entre as pessoas, entre as realidades, entre os papéis, entre as necessidades, nas experiências.

sexta-feira, 15 de julho de 2022

which one?

ser dócil 
em um ambiente hostil
é insalubre.
ser doce
em um ambiente hostil
é contraste.
veja o disfarce.
o quase engano
com a palavra.
quase parecida na
sonoridade.
tão distinta
na realidade.

Jessika de Sousa Macedo 

quinta-feira, 30 de junho de 2022

suco

vem cá me dar um beijo
gostoso
desses assim
de estalar
vulgar
que faz a lingua
correr
dançar 
lábios 
percorrer
e o corpo
aproximar
puxar
cintura pra
dentro
desejo pra
fora
ofegante
publicamente
desconcertante 
intimamente
desejante
vem cá 

Jessika de Sousa Macedo 

domingo, 10 de abril de 2022

Lugar pra amar

Você tem cheiro de um amor gostoso.

De um peito-casa lar.

Desses que a gente chega e quer se demorar.

Onde as paredes acolhem

Gargalhar

              Chorar

                      Gozar

                             Brincar

                                       Brigar

                                            Cuidar.

Ecoam                        (((        amar.       )))

                                                    A.Mar-ia.  



Jessika de Sousa Macedo 

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

Socialmente ɔoɹɹǝʇo

Esse mês tem sido o mês das saudades
Do me relembrar,
Em outros momentos, de como
Viver diferente.
Que quase ficou nas memórias esquecidas
Da infância.
Olhando para trás,
Reconheço.
Reconheço a sobre-vivência
Cega
Instintiva
Visceral.
Passando por experiências,
Lugares,
Pessoas,
Observando,
Aprendendo,
Servindo o
Coração
Puro.
Que se fechou em algum momento
De tão doído
Moído
Nessas andanças de passar sem
Ter uma guiança,
Um farol,
Uma luz que clareia o caminho.
Uma mão que orienta 
O que "passarei" (ou poderei "passar")
Pelos ciclos.
Nesses momentos de mudanças
Distanciadas de sentir
De ver
Encobertos pelas novas demandas.
Várias luzes,
Várias luzes que ia encontrando e
Observando e
Escutando e
Aprendendo e
Sobrevivendo e
Vendo e
Reconhecendo e
Vivendo.
A cada um
A cada uma
O meu
Agradecimento.
Por esses tempos,
Sobre-vivendo no
Avesso.
Caminhando por onde não
Me reconheço,
Reconheço e
Me reconheço.
De um outro jeito.
Passando em mim
Experiências observadas, antes, fora
Agora dentro.
Culpa-dor-confusão-medo-rejeição-nojo-julgamento-exclusão.
Quase me exclui por uma mente no estado
Instável.
Quase me exclui por não observar os ciclos da vida.
Quase quis me perder no mundo
Sem direção,
Sem sentido,
Sem sentir.
Quase quis excluir minha outra metade.
Quase quis me petrificar.
Hoje,
Diante de tudo.
Olhando para essa história
- Sem o juiz -
Para o que aconteceu.
Vejo semente,
Vejo caminho,
Vejo escolha,
Vejo reconhecimento,
Vejo acolhimento
Vejo estrada pra caminhar
E me vejo,
Me vejo mais de perto. 

Que viagem, viu.

Jessika de Sousa Macedo

terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

A vida em seu grande mistério
Linda
Viva.
Tem me trazido de volta
Para a apreciação
Para o encantamento
Para os detalhes
Que fazem minhas narinas abrirem
E pupilas dilatarem.
Para tudo
Que aqui existe.
Que saudade que estava desse lugar.
Que saudade que estava desse estado.
Que saudade que estava dessa forma
De estar aqui.
O mistério tem me deixado novamente
Curiosa.
Ainda cuidadosa.
Não mais de receio.
Cuidadosa
Pela beleza e preciosidade
Desvendada.
O cuidado daquele que ama.
Que saudade que estava disso.

Jessika de Sousa Macedo

domingo, 30 de janeiro de 2022

Graça

Música: Ver em cores (Rashid part. Liniker)


ando tão esquisita
vivendo uma vida sem sentido interior
sem sentido prático, vivido.
incompreensivelmente os dias têm passado
quase me levando pelo seu vento ligeiro
e eu com os pés fincados no chão 
vendo tudo passar
a me balançar de um lado para o outro
os joelhos a se dobrar e quase cair no chão.
levados pelo vento ligeiro que passa.
passa
estranhamente como essa vida dentro.
fora, tudo acontecendo normalmente em
seus ciclos.
dia-tarde-noite.
primavera-verão-outono-inverno.
inferno
que se demora aqui.
invernando nesses dias solares
que me derretem deixando sem forma,
esquisita.
por não entender o que se passa.
vivendo o outro lado da moeda.
um novo olhar.
quase presa em cara
estática para a fotografia que vai se
desbotando com o passar dos dias.
dos ciclos de dentro
que começam a ser reconhecidos por aqui
também.
uma forma desagradável que atuo na vida.
bruta:
com a lança em riste.
a ponto de ferir alguém 
(se é que não feriu).
*susto*
rígida:
ao me perceber querendo viver 
dentro de um quadrado 
estático. 
*risos e mais risos*
desarmada com o susto e riso do ciclo 
bruto,
rígido
percebido.
enquanto olho para as mãos.
enquanto olho para frente.
me desarmando com observação,
bom humor.
desavexando,
seguimos.

Jessika de Sousa Macedo