sexta-feira, 26 de abril de 2024

corpomemória/lembrança

A todo tempo despertando:
Do sono profundo
Do cochilo pós almoço
ou após escutar algo naquela palestra
que te traz de volta
A memória vinda - percebida ou não - após alguma vivência do
agora
Para um entendimento.
Estamos mesmo despertando?
Iremos mesmo despertar?
O que nesse mundo é de fato totalmente inativo?
Eu desperto
Tu despertas
Ele desperta
Nós teremos o grande despertar!
De quê?
Nós já estamos aqui
Em potência total permitida.
Vivendo.
Em atividade.
Até no sono há atividade.
- talvez não percebida -
Movimento - Inércia.
O que nesse mundo é de fato totalmente não desperto?
Até as memórias estão em atividade.
- talvez não percebidas -
Ansiedade.
Querer fazer algo - não percebido - que já acontece naturalmente.
Depressão.
Fechar os olhos para o que já vive.
Loucura.
Aceitar a ideia de doença que o outro te dá.
Despertar?

Jessika de Sousa Macedo

quarta-feira, 10 de abril de 2024

ponto zero

que bom que você chegou
não acreditei quando te vi!
será que é um sonho?
a que momento eu acordo?
(que bom que está aqui.)
sabe, faz um tempo que peço por sua presença.
que carrego o espaço da sua ausência.
que se foi no momento em que meus olhos te encontraram.
(te encontraram e relaxaram)
um encontro.
um encontro programado sem data.
calendário sendo passado no decorrer dos acontecimentos de cada vida.
o mundo girando e as coisas acontecendo até que..
ponto zero
nós 
uma de frente para outra.
como pode?
que bom que chegamos.
que estamos.
aqui.
respiro profundo
de alívio
repouso
de estar em casa
com a sua pele aqui 
em meus lábios 
em meus braços 
repousando na minha
pele também.
enfim.
em casa
respiro profundo
de alívio.

Jessika de Sousa Macedo

sábado, 23 de março de 2024

Rio

Esse corpo recebeu todo tipo de afeto.
Foi jogado nessa carne a resposta da
Raiva, do
Medo, da
Frustração, da
Covardia.
Nessa carne e nessa mente
Exposta,
Em formação.
Recebi também o
Cuidado, a
Ternura, a
Força, a
Proteção, o
Amor em suas diversas
formas.
Conheci também a
Mansidão.
E é nela que acredito
(ou quero acreditar - por perceber passada a passada).
Não a da carne amansada.
Mas a mansidão do tempo e do conhecimento.
Esse que vai mudando na ação de caminhar.
Quase não vista se olhado de perto, segundo a segundo.
Mas perceptível a cada chegada
de uma nova
Estação.

Jessika de Sousa Macedo

quinta-feira, 14 de março de 2024

Tudo para ser

Trecho do livro “A bailarina de Auschwitz”

Essa história tinha dentro de si
toda potência de vida
que há em uma semente.
Que não vingou.
Ou o tempo é outro?
Eu não sei.
Todas respostas externas diretas
me vêm sem deixar dúvida.
Mas a semente continua fechada.
Sem se quer uma abertura
para a vida que há dentro
sair.
Parei de direcionar perguntas à semente.
Parei de clamar respostas e culpas aos
deuses, ao universo, à vida, a mim.
Esse é o lugar para aprender a seguir
sem uma resposta?
Essa é uma (grande) perda?
Essa é uma violência?
Essa é a resposta do trauma não
visto
a tempo (de quem?)?
Parei.
Parei de perguntar para seguir.
Parei.
Parei de olhar respostas externas
não vindas da semente.
Parei por aqui.
Para seguir.

Jessika de Sousa Macedo

quarta-feira, 6 de março de 2024

partilha

esse sumo,
apreciado com quem é íntimo.
e não.
não quem é conhecido.
íntimo.
seja
aquela com quem troco palavras no ponto de ônibus,
aquele com quem troco serviço em algum estabelecimento.
aqueles que vêm
àqueles que vou.
sementes
são levadas pelo
vento.
por um outro bixo.
por um outro ser que por aqui passou.
há sementes que trago comigo
de outro lugar
por onde passei.
feito pássaro que se engraça em uma flor
e leva a semente
que nele ficou.
e assim,
relações acontecem.
flores
frutos
podem ser espalhados
admirados
desfrutados.
e o sumo,
apreciado.

Jessika de Sousa Macedo

sábado, 24 de fevereiro de 2024

tempo de alguém




não me basta ser compreensível 
escutar apenas a sua humanidade
enquanto minha mente vagueia
loucamente ansiando por suas mãos.
onde fica a minha humanidade?
tão ignorada e violentada.
apenas um toque.
apenas um olhar.
apenas um rastro de humanidade
faria minha mente se acalmar.
não me basta ser compreensível 
já não me basta mais.


Jessika de Sousa Macedo

quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

algoritmos - onde está o foco?

a tempos não vejo mais sentido na vida.
e ainda continuo aqui.
fazendo todos os dias em que acordo
aquilo que a vida me pede.
tarefas, obrigações, planejamento mínimo, ser útil.
a tempos não sei mais me divertir.
pousou em mim uma seriedade
que deixam meus movimentos pesados.
nem a leveza do meu corpo físico
miúdo tem influência em meus passos.
e assim tem sido todos os dias ao acordar.
tentei me divertir, me distrair
e parece que tem algo encrustado que me aperta junto a gravidade.
já não basta ela me pressionando?
ainda vejo a beleza das coisas externas, dos movimentos internos, dos aprendizados diários.
ainda me surpreendo com um pássaro, ainda quero sair correndo e me jogar ‘nos braços’ de uma árvore, ainda me apraz a companhia silenciosa dos animais, ainda me empolgo em uma conversa-em uma descoberta, ainda sinto tesão, ainda gozo.
e ainda assim não vejo sentido. não sei mais agradecer pela vida. não sei mais agradecer por ter acordado.
só não estou mais conseguindo enxergar mais o sentido de eu estar aqui.
e ainda assim continuo aqui.
nesses últimos anos vi a força para além desse corpo, dessa mente.
vi a força do instinto de sobrevivência e do desejo de permanecer.
e não é que queira eu mesma acabar com tudo. enquanto acordar estarei fazendo o que me é exigido. mas não reclamaria se acabasse essa pressão-foco extra.
me desencontrei da graça, do riso frouxo, do relaxamento, da suavidade, da doçura.
será que a reencontro na próxima respiração?

p.s.: não é demais visitar: um médico (ver as vitaminas), um terapeuta/psicólogo/psicanalista, alguma amizade, o lugar onde sua fé/intuição te levar, o conhecimento

Jessika de Sousa Macedo