quarta-feira, 10 de abril de 2024

ponto zero

que bom que você chegou
não acreditei quando te vi!
será que é um sonho?
a que momento eu acordo?
(que bom que está aqui.)
sabe, faz um tempo que peço por sua presença.
que carrego o espaço da sua ausência.
que se foi no momento em que meus olhos te encontraram.
(te encontraram e relaxaram)
um encontro.
um encontro programado sem data.
calendário sendo passado no decorrer dos acontecimentos de cada vida.
o mundo girando e as coisas acontecendo até que..
ponto zero
nós 
uma de frente para outra.
como pode?
que bom que chegamos.
que estamos.
aqui.
respiro profundo
de alívio
repouso
de estar em casa
com a sua pele aqui 
em meus lábios 
em meus braços 
repousando na minha
pele também.
enfim.
em casa
respiro profundo
de alívio.

Jessika de Sousa Macedo

sábado, 23 de março de 2024

Rio

Esse corpo recebeu todo tipo de afeto.
Foi jogado nessa carne a resposta da
Raiva, do
Medo, da
Frustração, da
Covardia.
Nessa carne e nessa mente
Exposta,
Em formação.
Recebi também o
Cuidado, a
Ternura, a
Força, a
Proteção, o
Amor em suas diversas
formas.
Conheci também a
Mansidão.
E é nela que acredito
(ou quero acreditar - por perceber passada a passada).
Não a da carne amansada.
Mas a mansidão do tempo e do conhecimento.
Esse que vai mudando na ação de caminhar.
Quase não vista se olhado de perto, segundo a segundo.
Mas perceptível a cada chegada
de uma nova
Estação.

Jessika de Sousa Macedo

quinta-feira, 14 de março de 2024

Tudo para ser

Trecho do livro “A bailarina de Auschwitz”

Essa história tinha dentro de si
toda potência de vida
que há em uma semente.
Que não vingou.
Ou o tempo é outro?
Eu não sei.
Todas respostas externas diretas
me vêm sem deixar dúvida.
Mas a semente continua fechada.
Sem se quer uma abertura
para a vida que há dentro
sair.
Parei de direcionar perguntas à semente.
Parei de clamar respostas e culpas aos
deuses, ao universo, à vida, a mim.
Esse é o lugar para aprender a seguir
sem uma resposta?
Essa é uma (grande) perda?
Essa é uma violência?
Essa é a resposta do trauma não
visto
a tempo (de quem?)?
Parei.
Parei de perguntar para seguir.
Parei.
Parei de olhar respostas externas
não vindas da semente.
Parei por aqui.
Para seguir.

Jessika de Sousa Macedo

quarta-feira, 6 de março de 2024

partilha

esse sumo,
apreciado com quem é íntimo.
e não.
não quem é conhecido.
íntimo.
seja
aquela com quem troco palavras no ponto de ônibus,
aquele com quem troco serviço em algum estabelecimento.
aqueles que vêm
àqueles que vou.
sementes
são levadas pelo
vento.
por um outro bixo.
por um outro ser que por aqui passou.
há sementes que trago comigo
de outro lugar
por onde passei.
feito pássaro que se engraça em uma flor
e leva a semente
que nele ficou.
e assim,
relações acontecem.
flores
frutos
podem ser espalhados
admirados
desfrutados.
e o sumo,
apreciado.

Jessika de Sousa Macedo

sábado, 24 de fevereiro de 2024

tempo de alguém




não me basta ser compreensível 
escutar apenas a sua humanidade
enquanto minha mente vagueia
loucamente ansiando por suas mãos.
onde fica a minha humanidade?
tão ignorada e violentada.
apenas um toque.
apenas um olhar.
apenas um rastro de humanidade
faria minha mente se acalmar.
não me basta ser compreensível 
já não me basta mais.


Jessika de Sousa Macedo

quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

algoritmos - onde está o foco?

a tempos não vejo mais sentido na vida.
e ainda continuo aqui.
fazendo todos os dias em que acordo
aquilo que a vida me pede.
tarefas, obrigações, planejamento mínimo, ser útil.
a tempos não sei mais me divertir.
pousou em mim uma seriedade
que deixam meus movimentos pesados.
nem a leveza do meu corpo físico
miúdo tem influência em meus passos.
e assim tem sido todos os dias ao acordar.
tentei me divertir, me distrair
e parece que tem algo encrustado que me aperta junto a gravidade.
já não basta ela me pressionando?
ainda vejo a beleza das coisas externas, dos movimentos internos, dos aprendizados diários.
ainda me surpreendo com um pássaro, ainda quero sair correndo e me jogar ‘nos braços’ de uma árvore, ainda me apraz a companhia silenciosa dos animais, ainda me empolgo em uma conversa-em uma descoberta, ainda sinto tesão, ainda gozo.
e ainda assim não vejo sentido. não sei mais agradecer pela vida. não sei mais agradecer por ter acordado.
só não estou mais conseguindo enxergar mais o sentido de eu estar aqui.
e ainda assim continuo aqui.
nesses últimos anos vi a força para além desse corpo, dessa mente.
vi a força do instinto de sobrevivência e do desejo de permanecer.
e não é que queira eu mesma acabar com tudo. enquanto acordar estarei fazendo o que me é exigido. mas não reclamaria se acabasse essa pressão-foco extra.
me desencontrei da graça, do riso frouxo, do relaxamento, da suavidade, da doçura.
será que a reencontro na próxima respiração?

p.s.: não é demais visitar: um médico (ver as vitaminas), um terapeuta/psicólogo/psicanalista, alguma amizade, o lugar onde sua fé/intuição te levar, o conhecimento

Jessika de Sousa Macedo

sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

Giro

A saudade é uma coisa bonita e interessante.
Ao mesmo tempo que há o risco de se prender ao passado.
Estático.
Nebuloso.
Se partimos da ideia que as coisas são cíclicas, 
esse passado saudoso 
será encontrado aqui 
e logo mais a frente 
também.
A cada passo dado,
a cada descanso desfrutado.
Lembrança.
Encontro.
Não igual.
Familiar.
E assim..
sentimento de casa.

Jessika de Sousa Macedo

sábado, 18 de novembro de 2023

Conjunto

nos pontos de intersecção 
do conhecimento 
vou sendo levada
como numa dança de valsa.
vou.
e quando vejo,
já se passaram 2, 3, 4
canções diferentes 
da mesma dança.
vou
assim
valsando
conhecendo
os pontos
que os caminhos
se encontram.

Jessika de Sousa Macedo

domingo, 1 de outubro de 2023

processo de desumanização?

dia desses fui pegar o bus e acabei perdendo. o próximo passaria dali a 40min mais ou menos. fui procurar comida, pois já passava da meia noite e estava com fome.
ali perto estava tendo um festival e me desloquei para lá. pensei: se tem música, tem comida. cheguei, escolhi um local e fiz o meu pedido. um yakisoba com legumes. estou lá comendo, focada para não me queimar e não perder novamente o bus. minutos depois, passa uma moça pedindo dinheiro para comer, pois disse que não conseguiu muito dinheiro pq as pessoas hoje em dia pagam no pix - ela é malabarista. dei uma das notas que tinha, pensando no ônibus que ainda ia pegar. minutos depois, apareceu um homem que vinha caminhando em minha direção com uma certa ferocidade. confesso que fiquei um pouco com medo. por eventos anteriores. abaixei o olho e tentei continuar focada no que estava fazendo para não entrar na paranoia do medo. mas antes de chegar até mim, ele parou no lixeiro que estava ali próximo e começou a pegar comida. ainda estava me recuperando do medo da primeira cena, de cabeça um pouco baixa, quando senti um empurrão no braço (não havia ninguém). olhei então para a cena e continuei comendo. senti dor por aquela situação, mas continuei comendo. naturalmente. pela primeira vez não tive o impulso de fazer algo e pela primeira vez não fui movida pela culpa para fazer algo. fiquei lá comendo e ele também. pouquíssimos segundos depois, um moço se levantou da sua mesa e com muita energia colocou o cachorro quente que estava comendo nas mãos desse homem (e retornou para a mesa) que devorou aquela pequena comida como alguém hipnotizado. o homem se dirigiu até a mesa do rapaz que também o entregou o refrigerante. logo em seguida, pegou o cachorro quente das mãos da moça que o acompanhava e deu para o homem. e a todo momento ele me olhava. não consegui identificar que olhar seria. diria atônito, mas não sei se era eu me vendo por ele por aquela minha ação e novidade da não culpa e não ação em relação à cena. mas uma coisa identifiquei. ele após a ação ficou agitado, pediu a conta com pressa e partiu.
nos dois casos poderia ter feito algo diferente. no primeiro, poderia ter perguntado a moça porque ela não tinha um pix? pois é simples de ser feito e gratuito. isso nem me passou pela cabeça. puxar para conversar, como costumo fazer. no segundo, poderia ter dado o meu yakisoba para o homem ou dividido - pois não tinha dinheiro para comprar outra coisa - e chamado para sentar, como de costume.
não. nada disso aconteceu e ainda não sei o que isso significa. nesse mesmo dia, mais cedo, estava me julgando, dizendo estar perdendo a minha humanidade por me perceber mais distante das pessoas. por não me interessar em estar perto emocionalmente. como antes. me julgando não mais ser uma amiga próxima. me julgando mesmo sabendo que se qualquer pessoa viesse a meu encontro, receberia algo. me julgando por estar fazendo menos que antes. parei com o julgamento, mas continuo sem saber o que isso significa. ainda me perguntando se é um processo de desumanização. mas uma coisa aconteceu pós a cena com o moço e com o homem. a pessoa que estava me atendendo me deu um copo de suco e disse que era cortesia da casa. não sei se ele quis me ensinar como é ser um ser humano ou se estava me entregando ódio ou se estava me entregando apenas um suco de laranja. independente de qual suco era, bebi enquanto me encaminhava para o ponto de ônibus. pois naquele momento estava na dúvida se estava me desumanizando e tinha começado a vir o sentimento de culpa.

Jessika de Sousa Macedo

quarta-feira, 27 de setembro de 2023

armas baixas

o medo de arriscar mais um passo
e estragar todo o caminho formado até 
ali.
e a coragem de mãos dadas
com o peito ardendo
brilhando
dizendo vem
vamos.
sem olhar para o depois.
o agora.
o que faremos daqui.
do agora.
e então vou.
arrisco mais um passo
da melhor forma possível.
na confiança do sentir.
me vulnerabilizo.
arrisco.

Jessika de Sousa Macedo

domingo, 3 de setembro de 2023

Cheiro da próxima estação

adoro também esse período do ano.
setembro.
o ar fica diferente
o tempo passa diferente.
onde tudo parece voltar a ter vida fora.
e dentro também.
principalmente após longo período de
inverno.
a sensação gostosa do corpo se
espreguiçando
dos olhos acordando
capturando o sol nas retinas.
energia.
o inverno pode ser difícil.
algumas coisas ficam pelo caminho
outras  se despedem
outras se atrasam
(ou seria, têm o seu próprio tempo?).
mais lento e rápido ao mesmo tempo
(metabolismo).
inverso
(ou seria complemento?).
como uma ampulheta que gira
quando o tempo vira.

Jessika de Sousa Macedo

quarta-feira, 2 de agosto de 2023

vient

quantos papéis vestimos? a quantos papéis nos apegamos? quantos papéis tiramos-tiranos até de fato ser? vivenciar aquilo que desejamos. qual o segundo que nos desconecta do repertório preso? quase como um resgate, um despertar. um se permitir também, achar digna de viver o que se deseja. por que não posso ser amada? por que não posso ir além do que já faço? por que não posso mergulhar nisso que sonho? por que não posso me derramar? por que não posso deixar também que me guiem um pouco? e por que não descer desse papel, desse lugar que me repito estar e me aproximar desse outro? desse outro lado? desse outro ser? desse outro eu? a repetição e a possibilidade. dois caminhos que exigem coragem. cada um a sua maneira. cada um traz incerteza. um, do futuro. o outro, do futuro e do agora. ainda assim se faz necessária a escolha de qual caminho seguir. e seguir.

Jessika de Sousa Macedo

sábado, 1 de julho de 2023

no jardim selvagem da morada,
com rosas bem cuidadas
que me atravessam a todo 
momento
de contemplação.
tamanha beleza.
nela, há todo seu próprio 
sustento.
minha ação de cuidado
são dispensáveis.
e ainda assim permaneço.
adubo. rego. podo.
espontaneamente estou lá.
transbordando.
sendo permitida e me permitindo.
por vezes, um espinho ou outro
arranha.
por vezes, molho demais.
e continuo ali.
apreciando, interagindo,
sabendo não ser proposital.
e sabendo, que ao ir embora, 
minha presença e ações em si 
não farão falta.
não eram necessárias.
e ainda assim decidir
estar ali.
transbordando,
movimentando
dentro
do cuidado - mútuo.
no sentir bem.
onde as coragens 
se encontram.
onde as coragens
se relacionam.

Jessika de Sousa Macedo

(ainda passeando por escritas antigas)

domingo, 25 de junho de 2023

Fantasmas

O que fazer quando os detritos
voltam?
E chegam espetando, machucando,
gritando a sua presença
nada
agradável.
A gente tá lá vivendo e de repente
boo.
A falta de manejo em lidar
com as relações de forma inteira
bate à porta, te esfrega na cara e
te faz sentir perdida.
Difícil pós tantos anos vivendo
pela metade e agora querendo
mostrar a outra parte e não se estabanar.
Fácil e dolorido recorrer ao que já é vivido,
conhecido por esse corpo físico/emocional.
Eu só queria um respiro,
uma palavra
ou
alguém que pegasse um pouco
na minha mão.
Um abraço.
Uma folga.
Pra viver assim, inteira e
me sentir amada.
Me sentir segura.
E mais uma vez os detritos vêm.
Me mostrando o caminho já percorrido
na casca.
Dentro da falsa segurança.
Me fazendo duvidar mais uma vez que posso apenas ser.

Jessika de Sousa Macedo

—-
nesses últimos dias a pergunta que mais me tenho feito é o que quero fazer estando aqui? parece simples e é tão imenso que minha mente não consegue acompanhar respostas. e quando olho para fora vejo pessoas, ações que dentro faz vibrar. não sei o que quero fazer estando aqui. mas há alguns lugares e ações onde quero estar. acho que o que me afasta dessa pergunta seja por sempre me colocar fora daqui. sempre admirando pessoas, sempre incentivando pessoas, sempre dando suporte a pessoas. nunca parei para me olhar. olhar como atuo, o que faço, o que já fiz. sempre estive fora. e o engraçado que é muito confortável olhar para mim dentro de emoções, pensamentos, imaterial. mas não me ver corporificada. como uma agente de fato. mesmo sabendo que minhas ações aqui têm algum impacto, mesmo procurando colocá-las dentro do que acredito e penso e sinto, ainda assim não era capaz de olhá-las de fato. parece até ilógico isso. e isso, de certa forma, é como também não olhar de fato para as pessoas que recebem essas minhas ações. elas são vistas, são pensadas antes e no momento, mas não no que fica, no depois. como se eu desaparecesse feito fumaça. me esquecendo que mesmo fumaça deixa cheiro, impregna. mais uma vez me descorporificando, me tirando daqui. sem perceber que as pessoas também me veem. sem perceber aquilo que influencio. e o mais engraçado disso tudo é que eu anseio por estar aqui. sem perceber que já estou. 
como se tivesse vivido o que de fato queria na imaginação por achar que não podia de fato viver que esqueci de sair de lá. que esqueci que não estou lá. que a vida não acontece lá. sinto saudades de viver uma vida-poesia. de tirar meu coração pra dançar na vida. de tirar meu coração pra dançar nas palavras. de tirar meu coração pra dançar nas ações. sinto falta da vida. mesmo estando nela.