quinta-feira, 29 de julho de 2021

Pinball

No meio
No centro dou a partida
Inúmeros caminhos que
consigo visualizar onde (pode)
dá(r).
Cada direção mirada, sentimento
diferente no 
peito.
É só que é meio estranho ficar aqui parada.
É só que é meio estranho não sentir nada e
sentir tudo.
O peso vem
O peso vai.
A medida vai sendo dosada pelo
caminho,
pela estrada.
Depressão a vista,
belas paisagens fora.
Carburador entupiu?
Todos para fora.
Para fora da estrada ou
vão querer encarar?
Cada estrada, um estado.
Hora consciente 
Hora largado.
Hora objetivo
Hora extravasado.
É difícil se encaixar,
Se dizer algo,
Amém!
Cantando a minha vida
Vou no ritmo da batida.
Puxo um assobio
para acompanhar,
um pandeiro pra
descontrair.
Escola de samba passou.
Passei.

Jessika de Sousa Macedo

quarta-feira, 28 de julho de 2021

21/8/2020: 
pensando sobre religião, intolerância

Parece que estamos mais próximos das paranoias.
Tipo, dando zoom.
Como se antes víssemos o outro muito distante,
como ameaça desconhecida.
Saímos para saber se era mesmo real e dominá-lo
para deixar de ser uma ameaça.
Trazendo ele, obrigatoriamente, para dentro do nosso(?!),
meu mundo,
minha linguagem,
cultura,
deixando de ser um desconhecido.
Vi que não era possível dominar todos,
pois vi que o mundo é grande e não estava dando muito certo.
Encontrei pessoas que tinham energia para me barrar.
Cai na fronteira estruturada,
no limite do outro.
Minha lupa aproximou um pouco dos continentes e
foi aproximando mais:
países,
cada vez mais fui vendo que o outro é desconhecido,
o coloco no lugar de ameaça.
Cada vez mais aproximando:
cidades,
bairros,
ruas,
casas
até chegar em mim.
E me vi como desconhecido também.
Como fiz aquilo?
Como fiz isso?
Não me reconheço.
Me coloquei no lugar de ameaça.
Não me entendo,
não consigo – não tento, construo muro – tecer
um diálogo comigo e com o outro.
Me aproximar.
Destruo,
é mais cômodo.
Tecer requer trabalho,
energia.
Sem disposição.


Por que vemos o caminho da destruição como única opção?


Jessika de Sousa Macedo

quinta-feira, 22 de julho de 2021

falível

Música: Vivo (Lenine)

veja, não tenho como garantir algo.
gostaria poder.
não posso.
não há garantias.
não tenho como te oferecer sempre
isso ou aquilo.
nem a mim posso.
achei que podia.
achei que ao menos em mim teria
um lugar totalmente seguro.
me pergunto como?
se constantemente minhas palavras me traem.
se minhas ações fazem o que não gostaria..
como dar e querer garantias?
para quê ficar correndo atrás de uma ilusão?
para quê ficar dando voltas
como um cachorro correndo atrás
do próprio rabo?
 ...
a única coisa que sei
é que dou o meu melhor.
meu melhor no momento.
como confiar então?
como confiar no outro?
em suas palavras?
em mim?
não sei se há como confiar
nesses resultados.
por que continuar acreditando, então?!
...
não é 'nas palavras' que tenho confiança.
não é 'nas ações' que confio.
Percebo a confiança vindo
do constante em fazer
o melhor que se pode.
e então confio.
e então reconheço.
me vejo.
de forma real.

Jessika de Sousa Macedo

Estive pensando sobre isso, de se curar de você. Me levou a questionar o que há em mim de verdade a ser curado? Percebi algumas ações, falas, pensamentos que por vezes escondo, tenho vergonha, nego. Mas se tratam de pensamentos, falas e ações, não de mim. Foi nesse ponto que parei para olhar. 
Quando escutei pela primeira vez esse discurso de se curar de você, algo em mim concordou com o que estava sendo dito e reconheceu que ali poderia existir uma verdade. Talvez por trazer essas ações “tortas”, reconhecer essa dualidade, essa face de duas moedas, o amor e o ódio, a inveja e a generosidade etc. que existem aqui e que não falamos sobre.
Apenas colocamos uma no que é certo e a outra no errado. E olha, não estou aqui na intenção de entrar em moralismo, mas em olhar o que existe. Talvez essas categorizações, essas criações de “x” como aceitável e "y" como aquilo que precisa ser excluído, nos leve a também achar que somos esse binarismo. Que ou estamos no grupo do certo ou do errado, do bom ou do mal, do doente ou do saudável. Como se não existissem nuances, diversidades em mim, em minhas ações. Talvez isso de categorizar me distancia da oportunidade de olhar e reconhecer esse universo por completo. De olhar com sinceridade para essas ações e o que elas causam em mim e no que existe fora de mim. E talvez, desse aprendizado de categorização, venha esse sofrimento, isso de achar que tem algo errado em mim e em querer me curar de mim.

quinta-feira, 15 de julho de 2021

Prosa

Assobio
Assobio
Assobiou.

Olha lá
Olha lá
Quem chegou.

A cachorra latindo
A receber
Aquele ser que acaba
De aparecer.

Ei, como foi a viagem?

Ah, foi divertida!
Teve belas paisagens!

Se aprochegue
Venha dar um tempo.
Descansa essa mochila
Pegue um assento
Um café vai bem?
Vamos prosear.
Como é que tá a vida do lado de lá?

Tá daquele mesmo jeitinho
Sem muita mudança a chegar
Mas me diga você
O quê que te faz assobiar?

Jessika de Sousa Macedo

sábado, 10 de julho de 2021

E por falar em saudade

Preciso me alevantar
A vida há de caminhar.
“O tempo não para”
Já dizia o cantô.
O tempo que já passou
E a gente aqui
A bater com a cabeça.
Tempo
Tempo
Tempo
Tempo.
Deixe o tempo de lado
Vá viver a vida
Deixa, que a saudade passa.
Às vezes volta.
É disso que a saudade é feita
Desses momentos
Feitos e desfeitos.
Desses momentos transcorridos
Nesse lugar que chama
Peito.
É um olhar amoroso
É um olhar caloroso
Que você encontra
Aqui
Acolá.
Pega isso
Bota no bolso e
Continua a caminhar.
Faz uma pausa.
Canta uma prosa.
Troca uns afagos.
E o tempo você solta.
A saudade?
Essa você anuncia se chegar.
E solta.

Jessika de Sousa Macedo

quinta-feira, 8 de julho de 2021

Desencontros do encontro

Full Performance (Eydís Evensen)

Estava um caos adormecido.
Quase me perdendo em silêncio, enfim.
Um acontecimento veio para me fazer olhar, parar.
Colocou mais lenha em um fogo que estava para se apagar.
Colocou mais lenha na fogueira.
Que começou a estalar.
Ei, olha o fogo, se aquece.
Só tem o ruído da madeira.
Não quero olhar.
Calor.
Agora sinto o calor.
Não sabia que estava com frio.
O meu fogo a se apagar.
Ossos voltando a se esticar.
E agora vejo aquele lugar frio para onde sempre retornava.
A densidade me deixava imóvel.
Paralisada.
O seu calor me fez lembrar do calor.
O seu amor me fez lembrar do amor.
A sua permanência me despertou curiosidade.
Desejo.
Movimento.
Caminhar.
Como é mesmo que se dá o primeiro passo?
Do agora, do lugar que parei de me olhar.
Me estabanei, patinei.
Reaprender.
Relembrar.
Continuei a caminhar.
Agora vejo o fogo.
Agora estou aquecida.
Para lá, não mais quero voltar.

Jessika de Sousa Macedo

quinta-feira, 1 de julho de 2021

Obstáculos

é um tal de
estica e solta
estica e solta
estica e solta
que uma hora
pode arrebentar.
se vai acertar alguém?
se vai voar?
que direção poderá tomar?
frente, trás
direita, esquerda
são perspectivas.
a questão é
que responsabilidade
tá sendo colocada aí?
tem comunicação?
tem cuidado?
tem carinho?

Jessika de Sousa Macedo