quinta-feira, 4 de setembro de 2025

como se vê para além das carcaças?

dia desses estava voltando para casa. tinha acabado de sair da aula, o ônibus não demorou a passar. comemorei ter lugar para sentar e me direcionei até ele. que era um daqueles mais altos. costumo sentar logo nos primeiros assentos, mas avistei um conhecido e fui cumprimentá-lo e estava mais próximo para sentar.

após algumas paradas, subiu uma senhora que se sentou do lado oposto ao meu, num banco mais a frente. na parada seguinte, a pessoa que estava a minha frente, no banco também alto, desceu e essa senhora correu para sentar no lugar dela.

ela se sentou, se acomodou e tirou um lanche que foi comendo despreocupadamente enquanto observava a rua.

e fiquei observando seus movimentos, suas expressões e em algum momento vi um frescor. um frescor que ultrapassava a pele enrugada. me demorei um pouco ali. e fiquei curiosa em saber dela. acho que principalmente por ter aprendido que com a idade a gente perde a vivacidade, a gente passa a ser dependente, a gente passa a ser um objeto na mão de outras pessoas que serão responsáveis por nós. voltei para a leitura que estava fazendo. mas foi difícil a concentração. fiquei observando as pessoas que passavam na rua também e me perguntando o que faz com que esse frescor saia, seja visto e transcenda qualquer papel, posição, pele, idade, sotaque. o que faz com que ele seja presente em nossas ações, no nosso fruir.

Jessika de Sousa Macedo