terça-feira, 22 de outubro de 2024

verde amiga

hoje me ocorreu a seguinte
pergunta:
quais histórias você tem contado às plantas?
as que dividem a casa com você.
quais respostas elas têm
te dado?
frutos
flores
brotos
cheiros
trabalhos
folhas secas
mortes
balanço de galhos..
como tem sido essa dança de roda
entre vocês?
quais novas chegaram.
quais partiram.
ultimamente tem mais choros ou risadas.
que história tem contado às plantas?

Jessika de Sousa Macedo

sexta-feira, 11 de outubro de 2024

Sou uma pessoa de fácil convivência (?)

[Hoje fui dar o primeiro passeio do dia com Lilo (cachorra que partilha a mesma casa que eu) e veio a ligação de alguns pensamentos. Dei risada comigo porque quase sempre que isso acontece estou sem uma ferramenta e costumo me distrair no passeio e esquecer do pensamento. E é importante para mim desenvolver a ligação de pensamentos soltos. Me ajuda a me conhecer mais e até a pensar sobre as tantas coisas que vou consumindo nos dias. Isso me faz olhar também para o hábito que não estou tendo mais, o de escrever e até conversar mais profundamente. E que me faz ficar "refém" desses momentos e querer parar um desconhecido para pedir o celular emprestado para me enviar uma mensagem para não esquecer,  risos. Nunca fiz isso, mas passou hoje pela cabeça, risos.]
Essa semana escutei uma frase que me chamou atenção. Não por ter sido a primeira vez que escutei, mas da forma que ela foi dita. A frase é 'sou uma pessoa de fácil convivência'. E o que escutei foi a pessoa dizer que fica com o pé atrás quando alguém se diz essa pessoa de fácil convivência. Quando fui hoje passear com Lilo, essa frase me veio à cabeça e logo em seguida lembrei de uma história que uma amiga me contou que me levou a pensar depois sobre o que seria o estado de presença e o estado de alerta. Explico.
A história que minha amiga me contou foi de quando ela foi conhecer uma cidade - que esqueci o nome - do Brasil. E lá nesse lugar ela foi andar de barco em um rio para conhecê-lo. O moço que estava conduzindo o barco e mostrando o lugar para ela e suas amigas, parou em um certo ponto para que elas pudessem nadar no rio. E essa minha amiga perguntou se lá no rio tinha jacaré. Ele disse que sim, mas que não tinha problema em nadar ali. Ela disse que ficou com medo e que foi nadar apreensiva.
Dias depois, também passeando com Lilo, lembrei dessa história e fiquei pensando sobre o estar presente e o estar em alerta (nunca tinha parado para pensar de fato sobre a diferença dos dois e nem para pesquisar sobre). Porque tomar banho em um rio com jacaré  pode ser algo ameaçador e perigoso e posso não relaxar e aproveitar a água por esse medo, ficando em alerta ao esperar a ameaça atacar. Por outro lado, posso também desfrutar do rio, sabendo que há o risco de ser atacada, não desconsiderando ele e estar ali presente para se algo ameaçador se apresentar de fato, poder agir. E me lembrei também nesse dia, de um rio que tomava banho na infância e que tinha várias cobras. Lembrei mais especificamente de um dia em que uma lavadeira disse para a outra que estava ao lado dela em outra pedra lavando roupa que estava sentindo a língua de uma cobra em sua perna. Enfim. Vou seguir para não perder o fio,  risos.
Hoje, a ligação desses pensamentos soltos foi no que a gente foca.
Sobre a pessoa ficar com o pé atrás quando uma outra diz ser de fácil convivência, eu entendo e concordo. Concordo por ele ter dito no contexto em que normalmente essas pessoas  desconsideram que também tem uma parte que é difícil de conviver.
Eu acredito que todos somos pessoas de fácil convivência. E se pararmos para pensar, talvez encontremos em nossas memórias momentos a sós ou com outras pessoas que pudemos sentir isso e dizer isso: Também sou uma pessoa de fácil convivência. Focar nisso, para mim, seria o desfrutar do rio sabendo que também tem a parte difícil.  Não desconsiderando que posso agir de forma ameaçadora, violenta comigo e com outras pessoas. É aproveitar essa pessoa fácil que também somos de forma presente e perceber quando o nosso lado mais destruidor aparece e agir. E da mesma forma, ao se relacionar com outras pessoas. Não desconsiderar que a outra pessoa também, assim como você, pode ser uma ameaça. Mas convocar nela a pessoa de fácil convivência.
--
p.s.: abusos são abusos. Violências são violências. E essas ações, acredito que devem ser respondidas e barradas.

Jessika de Sousa Macedo