[Hoje fui dar o primeiro passeio do dia com Lilo (cachorra que partilha a mesma casa que eu) e veio a ligação de alguns pensamentos. Dei risada comigo porque quase sempre que isso acontece estou sem uma ferramenta e costumo me distrair no passeio e esquecer do pensamento. E é importante para mim desenvolver a ligação de pensamentos soltos. Me ajuda a me conhecer mais e até a pensar sobre as tantas coisas que vou consumindo nos dias. Isso me faz olhar também para o hábito que não estou tendo mais, o de escrever e até conversar mais profundamente. E que me faz ficar "refém" desses momentos e querer parar um desconhecido para pedir o celular emprestado para me enviar uma mensagem para não esquecer, risos. Nunca fiz isso, mas passou hoje pela cabeça, risos.]
Essa semana escutei uma frase que me chamou atenção. Não por ter sido a primeira vez que escutei, mas da forma que ela foi dita. A frase é 'sou uma pessoa de fácil convivência'. E o que escutei foi a pessoa dizer que fica com o pé atrás quando alguém se diz essa pessoa de fácil convivência. Quando fui hoje passear com Lilo, essa frase me veio à cabeça e logo em seguida lembrei de uma história que uma amiga me contou que me levou a pensar depois sobre o que seria o estado de presença e o estado de alerta. Explico.
A história que minha amiga me contou foi de quando ela foi conhecer uma cidade - que esqueci o nome - do Brasil. E lá nesse lugar ela foi andar de barco em um rio para conhecê-lo. O moço que estava conduzindo o barco e mostrando o lugar para ela e suas amigas, parou em um certo ponto para que elas pudessem nadar no rio. E essa minha amiga perguntou se lá no rio tinha jacaré. Ele disse que sim, mas que não tinha problema em nadar ali. Ela disse que ficou com medo e que foi nadar apreensiva.
Dias depois, também passeando com Lilo, lembrei dessa história e fiquei pensando sobre o estar presente e o estar em alerta (nunca tinha parado para pensar de fato sobre a diferença dos dois e nem para pesquisar sobre). Porque tomar banho em um rio com jacaré pode ser algo ameaçador e perigoso e posso não relaxar e aproveitar a água por esse medo, ficando em alerta ao esperar a ameaça atacar. Por outro lado, posso também desfrutar do rio, sabendo que há o risco de ser atacada, não desconsiderando ele e estar ali presente para se algo ameaçador se apresentar de fato, poder agir. E me lembrei também nesse dia, de um rio que tomava banho na infância e que tinha várias cobras. Lembrei mais especificamente de um dia em que uma lavadeira disse para a outra que estava ao lado dela em outra pedra lavando roupa que estava sentindo a língua de uma cobra em sua perna. Enfim. Vou seguir para não perder o fio, risos.
Hoje, a ligação desses pensamentos soltos foi no que a gente foca.
Sobre a pessoa ficar com o pé atrás quando uma outra diz ser de fácil convivência, eu entendo e concordo. Concordo por ele ter dito no contexto em que normalmente essas pessoas desconsideram que também tem uma parte que é difícil de conviver.
Eu acredito que todos somos pessoas de fácil convivência. E se pararmos para pensar, talvez encontremos em nossas memórias momentos a sós ou com outras pessoas que pudemos sentir isso e dizer isso: Também sou uma pessoa de fácil convivência. Focar nisso, para mim, seria o desfrutar do rio sabendo que também tem a parte difícil. Não desconsiderando que posso agir de forma ameaçadora, violenta comigo e com outras pessoas. É aproveitar essa pessoa fácil que também somos de forma presente e perceber quando o nosso lado mais destruidor aparece e agir. E da mesma forma, ao se relacionar com outras pessoas. Não desconsiderar que a outra pessoa também, assim como você, pode ser uma ameaça. Mas convocar nela a pessoa de fácil convivência.
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p.s.: abusos são abusos. Violências são violências. E essas ações, acredito que devem ser respondidas e barradas.
Jessika de Sousa Macedo
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