quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

confessos e desejos

Musica: A começar em mim (Pedro Valença)

essa sensação de que não tem nada fora de lugar, me traz reconforto e força.

percebo que tenho um caminho de aprendizado e ao mesmo tempo sou grata por agora, pelo agora.

perceber as defesas, o querer fugir de ser acolhida, achar que não sou bem-vinda (que o corpo registrou) e perceber que cada um está tentando sobreviver e viver da melhor forma possível e ao mesmo tempo dizer não para algumas ações que fazem mal e continuar amando e querendo bem as pessoas.

isso tem sido importante.

e perceber um lugar de família, de comunidade. de querer viver e compartilhar a vida..

isso é gostoso. e assustador. e tem sido importante.

e simbora pra mais um ano.

que eu possa estar atenta a mim e aos outros.


que seja uma passagem de ano em paz e consciente.

que esse ano que chega possa ser bem recebido.


Jessika de Sousa Macedo

terça-feira, 17 de dezembro de 2024

eu, pinto



Tanto e nada a ser dito. Queria piar e tudo ser colocado ali, em um único som. Mas eu sei que a mente humana não funciona assim. Precisamos dizer, pensar, linkar, significar inúmeras palavras para então fazer algum sentido. De direção ou de reverência? Sei lá eu.

Fico pensando como seria falar a língua de um outro animal. Sei lá, percebo que pode ser complexo atingir o âmago em outra língua/linguagem que não a que se foi construindo em cada célula, por anos. E então, em outro continente, se torcer para atingir o âmago por outras vias, outra língua. Deve ser estranho e interessante. Será por isso que nunca me dediquei a língua alguma? Não sei. Acho que talvez não. Mas voltemos ao caso de espécies diferentes. Imagina se de fato entendêssemos o significado do som que uma arara está emitindo e poder responder. Não simplesmente imitar o som como algumas pessoas fazem perfeitamente bem. Mas de fato sentir e soltar o som. Ok. Fui longe na viagem. Mas sei lá. Preguiça de elaborar humanamente o que o corpo tá pedindo e a cabeça gritando. 
Ou seria o contrário? (É muito 'dramalhão' aprendido. Tá. Estou julgando e generalizando a humanidade e outras espécies. Guilty.)

Acho que só estou fugindo mesmo. Acho que estou com medo de conhecer o outro lado da porta e deparar comigo diferente. Anseio e tenho medo. Talvez por isso tenho ficado praticamente vegetativa nas férias. Sem viajar. E sem o único elo material que me liga à minha cidade de origem. O trabalho (um lado que temia. Concentrar a maior parte da energia em uma única coisa e ficar perdida sem ela.).

Jessika de Sousa Macedo

balança


como os galhos de uma árvore.
balança
e
se lança
como os frutos que caem
maduros no chão
cumprindo sua função de nutrição de si
e agora o
outro
a nutrir.
retribuir.
pra frente que se
doa.
troca.
limpa.
lança.
se lança.
balança.
como os galhos de uma árvore
que dança.

Jessika de Sousa Macedo

terça-feira, 22 de outubro de 2024

verde amiga

hoje me ocorreu a seguinte
pergunta:
quais histórias você tem contado às plantas?
as que dividem a casa com você.
quais respostas elas têm
te dado?
frutos
flores
brotos
cheiros
trabalhos
folhas secas
mortes
balanço de galhos..
como tem sido essa dança de roda
entre vocês?
quais novas chegaram.
quais partiram.
ultimamente tem mais choros ou risadas.
que história tem contado às plantas?

Jessika de Sousa Macedo

sexta-feira, 11 de outubro de 2024

Sou uma pessoa de fácil convivência (?)

[Hoje fui dar o primeiro passeio do dia com Lilo (cachorra que partilha a mesma casa que eu) e veio a ligação de alguns pensamentos. Dei risada comigo porque quase sempre que isso acontece estou sem uma ferramenta e costumo me distrair no passeio e esquecer do pensamento. E é importante para mim desenvolver a ligação de pensamentos soltos. Me ajuda a me conhecer mais e até a pensar sobre as tantas coisas que vou consumindo nos dias. Isso me faz olhar também para o hábito que não estou tendo mais, o de escrever e até conversar mais profundamente. E que me faz ficar "refém" desses momentos e querer parar um desconhecido para pedir o celular emprestado para me enviar uma mensagem para não esquecer,  risos. Nunca fiz isso, mas passou hoje pela cabeça, risos.]
Essa semana escutei uma frase que me chamou atenção. Não por ter sido a primeira vez que escutei, mas da forma que ela foi dita. A frase é 'sou uma pessoa de fácil convivência'. E o que escutei foi a pessoa dizer que fica com o pé atrás quando alguém se diz essa pessoa de fácil convivência. Quando fui hoje passear com Lilo, essa frase me veio à cabeça e logo em seguida lembrei de uma história que uma amiga me contou que me levou a pensar depois sobre o que seria o estado de presença e o estado de alerta. Explico.
A história que minha amiga me contou foi de quando ela foi conhecer uma cidade - que esqueci o nome - do Brasil. E lá nesse lugar ela foi andar de barco em um rio para conhecê-lo. O moço que estava conduzindo o barco e mostrando o lugar para ela e suas amigas, parou em um certo ponto para que elas pudessem nadar no rio. E essa minha amiga perguntou se lá no rio tinha jacaré. Ele disse que sim, mas que não tinha problema em nadar ali. Ela disse que ficou com medo e que foi nadar apreensiva.
Dias depois, também passeando com Lilo, lembrei dessa história e fiquei pensando sobre o estar presente e o estar em alerta (nunca tinha parado para pensar de fato sobre a diferença dos dois e nem para pesquisar sobre). Porque tomar banho em um rio com jacaré  pode ser algo ameaçador e perigoso e posso não relaxar e aproveitar a água por esse medo, ficando em alerta ao esperar a ameaça atacar. Por outro lado, posso também desfrutar do rio, sabendo que há o risco de ser atacada, não desconsiderando ele e estar ali presente para se algo ameaçador se apresentar de fato, poder agir. E me lembrei também nesse dia, de um rio que tomava banho na infância e que tinha várias cobras. Lembrei mais especificamente de um dia em que uma lavadeira disse para a outra que estava ao lado dela em outra pedra lavando roupa que estava sentindo a língua de uma cobra em sua perna. Enfim. Vou seguir para não perder o fio,  risos.
Hoje, a ligação desses pensamentos soltos foi no que a gente foca.
Sobre a pessoa ficar com o pé atrás quando uma outra diz ser de fácil convivência, eu entendo e concordo. Concordo por ele ter dito no contexto em que normalmente essas pessoas  desconsideram que também tem uma parte que é difícil de conviver.
Eu acredito que todos somos pessoas de fácil convivência. E se pararmos para pensar, talvez encontremos em nossas memórias momentos a sós ou com outras pessoas que pudemos sentir isso e dizer isso: Também sou uma pessoa de fácil convivência. Focar nisso, para mim, seria o desfrutar do rio sabendo que também tem a parte difícil.  Não desconsiderando que posso agir de forma ameaçadora, violenta comigo e com outras pessoas. É aproveitar essa pessoa fácil que também somos de forma presente e perceber quando o nosso lado mais destruidor aparece e agir. E da mesma forma, ao se relacionar com outras pessoas. Não desconsiderar que a outra pessoa também, assim como você, pode ser uma ameaça. Mas convocar nela a pessoa de fácil convivência.
--
p.s.: abusos são abusos. Violências são violências. E essas ações, acredito que devem ser respondidas e barradas.

Jessika de Sousa Macedo

segunda-feira, 30 de setembro de 2024

Acho que os encontros (com gente-consigo-, com bixo, com verde, com água, com coisas, com experiências..) abrem portas e a coragem de entrar, dar o primeiro passo, atravessar o medo e preconceito (acompanhada da autorresponsabilidade) nos levam em (pode nos levar a) lugares inimagináveis de gostosos.
Esse semestre foi muito disso.
Às vezes dá medo de continuar. Principalmente quando tento olhar para todo o caminho que ainda tem. E então me lembro que não tenho como ter certeza desse caminho. Só do que está aqui, próximo, e do que meu peito e corpo sussuram. E banhada nessas experiências e na confiança do reconhecimento de que dou conta de caminhar, continuo. Passo por passo.
Sobre essas dificuldades, estive pensando sobre os pre-conceitos que carregamos e nem percebemos. E algumas vezes, de alguns ligados a alguma característica ou momento que tivemos ou passamos e que esquecemos - o esquecimento do nosso próprio caminho percorrido.
Como é interessante atravessar esses lugares. E como pode ser acolhedor reconhecer no outro o lugar que um dia passamos.
É bom poder me ver novamente e recuperar esse lugar de humana. De gente. De boniteza. De que 'tá tudo certo'. De relaxamento. De força. De raiz.
--
p.s.: portas que fazem sentido atravessar

domingo, 22 de setembro de 2024

deleite

cada um tem o(s) seu(s)

prazer(es).

o meu está nas palavras.

as palavras me gostam

e eu as gosto também.

mas as que são faceiras

são as desenhadas no papel.

como gostaria que as faladas

se apossassem do aparelho

fonador deste corpo e

que sambasse e se deliciassem

ao sair da minha boca

como saem pela grafia

e como quando entram pelos outros

sentidos.

mas quando saem,

pio.

eu, pinto.

e elas pintam e bordam

comigo.

ainda assim as busco.

gosto de saber delas,

ouvi-las.

seja em que tom for

seja lá que sentimento carregam junto.

as busco para saber delas

do mundo

e de mim.

.

qual o seu?


Jessika de Sousa Macedo

sábado, 21 de setembro de 2024

curiosidade escondida

e se..
e se eu rolasse, corresse, caísse, desse cambalhota?
gosto tanto do chão..do corpo em movimento.
não sei..
será?
já reparou na beleza que é um corpo em movimento?
e se eu me arriscasse, um pouco mais, cantasse? não, escrevesse.
vc ja reparou como é bonita a grafite no papel? a cor, a textura.
as possibilidades.
abstrato? uma flor? pessoas? paisagens.
o dia tá tão bonito.
tem uma brisa fresca convidando dança.
as árvores, elas sempre aceitam o convite.
já reparou?
são nada bobas.
já eu?
bom, deixa pra lá.

---
texto brotado para a aula de Movimento e Linguagem

Jessika de Sousa Macedo

sábado, 3 de agosto de 2024



pinta, menina
se enfeita e se pinta.
se esconde, menina
por trás da fantasia.
se monta, menina
veste essas roupas.
mostra aquilo que querem ver.
ai que preguiça.
vestir isso e
pintar daquilo
para ser pra você.
olha só para esse peso
da roupa
esse peso
da maquiagem
esse peso
da máscara.
ai que preguiça.
vestir isso e
pintar daquilo
para não ser.
vai menina
me mostra.
aqui, menina
só pinta
assim.
ai que preguiça.
vestir isso e
pintar daquilo
para ser pra você.

Jessika de Sousa Macedo

fica mais

"A new way" (por Kisane)


fique mais um pouco.
me dê o prazer da sua companhia.
posso escutar um pouco mais da tua voz?
me permite saber o significado das suas palavras? 
que tanto dançam com seu olhar e mãos. 
me desvenda o que faz seu semblante relaxar.
fique um pouco mais.
aqui.
próximo.
inebriando meus sentidos.
que pedem por um pouco mais.
do cheiro de seus cabelos que você tanto gosta de enrolar nos dedos.
dos seus beijos macios e cuidadosos que a minha pele tanto gosta.
do seu abraço cobertor que tanto quero morar.
fica.

Jessika de Sousa Macedo

domingo, 23 de junho de 2024

dor e delícia

Como é possível viver coisas tão belas
Como é possível conhecer pessoas intimamente
Como é possível estar em companhias agradáveis
Todos os dias.
Pessoas apaixonantes de todo canto.
Por vezes me pergunto o que fiz
e agradeço a benção.
Como sou grata a cada pessoa que
conheci - conocí.
Eu gosto de gente
E por vezes isso me assusta
Tenho medo de me aproximar um pouco mais.
Ih no medo, faço confusão.
Por vezes me questiono o porquê desse medo que
afasta.
Ficam as memórias, as lembranças
suaves, marejantes, agraciadas
de cada um
de cada uma.
E a dor do resultado da confusão
Que também fica
Querendo ser desatada
Dita
Claramente.
Na impossibilidade,
Derramam-se as doces lembranças
Que podem ser abertas e vistas
mais uma vez.

Jessika de Sousa Macedo

quinta-feira, 30 de maio de 2024

Desencontro? continuação..

Como acontece o encontro com o outro?
Ele de fato acontece?
As respostas que damos
São de fato para o outro?
E a que recebemos
São de fato para a gente?
O encontro com o outro acontece?
Ou diante da gente só há
memória?
Qual a ponte que atravessa a bolha?
Equívoco?
Frustração?
Contrariedade?
Apreciação?
Sinal da paz?
Harmonia?



---
Tem um negócio nessa vida que pode ser um obstáculo. As perspectivas (ponto de vista). Elas podem ir para qualquer lugar. E uma relação (?) que não há vontade de comunicação das partes ou de uma das partes, a perspectiva pode ser interpretada em qualquer lugar. Obstáculo ou construção ou aproximação..?

Jessika de Sousa Macedo

domingo, 19 de maio de 2024

Filme Dias perfeitos

Ontem assisti ao filme ‘Dias perfeitos’ e como ninguém que conheço assistiu e não estou com disposição para fóruns, vim escrever. Então aqui vai a perspectiva de uma pessoa comum, que não entende de crítica de filme e nem tem essa intenção. Vim somente relatar a minha perspectiva ao ter assistido ao filme e o que ele causou em mim. E, caso quem me lê assistiu e queira dizer a sua perspectiva, gostaria de ler^^ Dito isso..
O engraçado, acho, foi que assisti após assistir a um filme totalmente diferente. Explico. Assisti um filme, no dia anterior, por indicação onde dizia ter “uma protagonista errante”. Gostei disso, achei humano e fui assistir. O filme é bom, a meu ver. Mostra uma pessoa contraditória. Que se diz feminista e na primeira oportunidade, está em disputa com outra mulher. Bom, como não sei qual foi a intenção do filme, pois não fui procurar. Aqui poderia entrar algumas críticas, como reforçando que essa rivalidade é algo que acontece naturalmente entre mulheres e principalmente quando há um homem no meio – será mesmo?! Mas como também é um filme que vem de uma cultura que não conheço (os dois filmes, na verdade) e não estou com intenção de focar nisso, sigo. Esse filme foi intenso e o visual conseguiu que sentíssemos o efeito caótico que a personagem estava vivendo ali com várias demandas externas.. E a observação de protagonista errante fez sentido, de alguma maneira.
E então ontem, decidi assistir ‘Dias perfeitos’, que tinha visto o trailer no mesmo dia e me despertou curiosidade. O filme me levou para um lugar totalmente diferente. Enquanto no primeiro, não tive nenhum descanso em meio aos cortes caóticos e ao sofrimento visível da personagem, o segundo me trouxe para casa, para dentro. O filme mostra o cotidiano do personagem. Um cotidiano simples e repetitivo e ao mesmo tempo, de alguma forma, dá para perceber a riqueza interna desse personagem. Acontecem algumas coisas externas que muda a rotina dele, mas que não são capazes de tirá-lo totalmente desse aspecto interiorizado e arrastá-lo para o caótico. Dá para perceber que há alguma história que dói também nele, mas não o desestabiliza. De fundo, o filme pareceu querer retratar dois mundos diferentes – o analógico e o digital. Não sei também qual foi a intenção do filme, pois não li também sobre, mas teve uma fala que me chamou atenção e também questionaria: “O mundo é formado por muitos mundos. Alguns estão conectados. Outros, não”. Acho que se esses mundos existem dentro de um, existe algum meio de conexão. Só se os que não estão conectados não existem de fato. Enfim, também não vim me ater a isso. Mas fica o questionamento.
Acho que ele me afetou mais, por nessa atual estrutura de mundo que a gente vive, ser mais comum o cenário do primeiro filme – constante crítica, julgamento, vida fake, performance, muito estímulo que chega a cansar. E ele vem com uma porta diferente, de sossego, de descanso e ao mesmo tempo rico e convida pra esse lugar interno tranquilo. E no meio disso, tem a sobrinha do personagem, que pareceu retratar esse meio e essa pergunta que ela faz “Em qual mundo eu estou?”
Bom, isso foi o que chegou para mim. Sem conclusões, com alguns questionamentos, com energia de vida e com o sentimento de casa.

Jessika de Sousa Macedo

quarta-feira, 1 de maio de 2024

A + B = C

"Cântico negro" (por Maria Bethânia)


Me ensinaram a julgar pessoas, 
a devolver na mesma moeda, 
a 'matar' essa pessoa em vida dizendo "você morreu para mim".
Mas também me ensinaram a apreciar as histórias, 
a responder às violências, 
a perdoar as pessoas.
Mas ninguém de fato revelou o que se passava por dentro.
O que levou a fazer isso ou aquilo?
Ninguém descreveu como foi, como estava e o que decidiu fazer.
Apenas disse.
A + B = C
S(c)egue.
Onde estão as histórias completas - alcançáveis?
Verdade ou consequência?
Agradeço e dispenso.
O lúdico e o lógico.
Gosto de mergulhar aqui.
Entendo melhor aí.
Como que sobrevive a essa dicotomia do mundo e de casa?
Como que integra isso?
Como que saio da falação?
Como protejo a cabeça?
Se seguindo a fórmula não chego na resposta C.
Me perco e já nem sei em que fórmula estou.
Se no primeiro ou no segundo ensina(manda)mento.
O que fazer?
Sigo incoerente se olhada (olhando)
apenas dentro dessa fórmula.

Jessika de Sousa Macedo

sexta-feira, 26 de abril de 2024

corpomemória/lembrança

Na pausa de uma manhã difícil.
Miro as folhas da palmeira pela janela.
Um respiro profundo enquanto aprecio seu movimento
e minhas retinas são banhadas também pelo sol
e minha memória alimentada pela liberdade - sauvaginfância - de outrora.
Agradeço por esse alimento
e me viro para a cumbuca com ovos e batata doce
e a xícara com café preto que me esperavam
para continuar o dia.

---

A todo tempo despertando:
Do sono profundo
Do cochilo pós almoço
ou após escutar algo naquela palestra
que te traz de volta
A memória vinda - percebida ou não - após alguma vivência do
agora
Para um entendimento.
Estamos mesmo despertando?
Iremos mesmo despertar?
O que nesse mundo é de fato totalmente inativo?
Eu desperto
Tu despertas
Ele desperta
Nós teremos o grande despertar!
De quê?
Nós já estamos aqui
Em potência total permitida.
Vivendo.
Em atividade.
Até no sono há atividade.
- talvez não percebida -
Movimento - Inércia.
O que nesse mundo é de fato totalmente não desperto?
Até as memórias estão em atividade.
- talvez não percebidas -
Ansiedade.
Querer fazer algo - não percebido - que já acontece naturalmente.
Depressão.
Fechar os olhos para o que já vive.
Loucura.
Aceitar a ideia de doença que o outro te dá.
Despertar?

Jessika de Sousa Macedo

P.s.: as palavras ansiedade, depressão não estão se referindo a diagnósticos.

quarta-feira, 10 de abril de 2024

ponto zero

que bom que você chegou
não acreditei quando te vi!
será que é um sonho?
a que momento eu acordo?
(que bom que está aqui.)
sabe, faz um tempo que peço por sua presença.
que carrego o espaço da sua ausência.
que se foi no momento em que meus olhos te encontraram.
(te encontraram e relaxaram)
um encontro.
um encontro programado sem data.
calendário sendo passado no decorrer dos acontecimentos de cada vida.
o mundo girando e as coisas acontecendo até que..
ponto zero
nós 
uma de frente para outra.
como pode?
que bom que chegamos.
que estamos.
aqui.
respiro profundo
de alívio
repouso
de estar em casa
com a sua pele aqui 
em meus lábios 
em meus braços 
repousando na minha
pele também.
enfim.
em casa
respiro profundo
de alívio.

Jessika de Sousa Macedo

(isso é sobre o encontro consigo. e pode ser com o outro também)

quarta-feira, 3 de abril de 2024

banalidade

as coisas ordinárias 

são o que dão vida

no ordinário 

é que as coisas acontecem

é onde a vida brota,

acontece.

onde há graça -

riso,

divino.

o sustento onde todas as coisas acontecem - prece.


Jessika de Sousa Macedo

sábado, 23 de março de 2024

Rio

Esse corpo recebeu todo tipo de afeto.
Foi jogado nessa carne a resposta da
Raiva, do
Medo, da
Frustração, da
Covardia.
Nessa carne e nessa mente
Exposta,
Em formação.
Recebi também o
Cuidado, a
Ternura, a
Força, a
Proteção, o
Amor em suas diversas
formas.
Conheci também a
Mansidão.
E é nela que acredito
(ou quero acreditar - por perceber passada a passada).
Não a da carne amansada.
Mas a mansidão do tempo e do conhecimento.
Esse que vai mudando na ação de caminhar.
Quase não vista se olhado de perto, segundo a segundo.
Mas perceptível a cada chegada
de uma nova
Estação.

Jessika de Sousa Macedo

quinta-feira, 14 de março de 2024

Tudo para ser

Trecho do livro “A bailarina de Auschwitz”

Essa história tinha dentro de si
toda potência de vida
que há em uma semente.
Que não vingou.
Ou o tempo é outro?
Eu não sei.
Todas respostas externas diretas
me vêm sem deixar dúvida.
Mas a semente continua fechada.
Sem se quer uma abertura
para a vida que há dentro
sair.
Parei de direcionar perguntas à semente.
Parei de clamar respostas e culpas aos
deuses, ao universo, à vida, a mim.
Esse é o lugar para aprender a seguir
sem uma resposta?
Essa é uma (grande) perda?
Essa é uma violência?
Essa é a resposta do trauma não
visto
a tempo (de quem?)?
Parei.
Parei de perguntar para seguir.
Parei.
Parei de olhar respostas externas
não vindas da semente.
Parei por aqui.
Para seguir.

Jessika de Sousa Macedo

quarta-feira, 6 de março de 2024

partilha

esse sumo,
apreciado com quem é íntimo.
e não.
não quem é conhecido.
íntimo.
seja
aquela com quem troco palavras no ponto de ônibus,
aquele com quem troco serviço em algum estabelecimento.
aqueles que vêm
àqueles que vou.
sementes
são levadas pelo
vento.
por um outro bixo.
por um outro ser que por aqui passou.
há sementes que trago comigo
de outro lugar
por onde passei.
feito pássaro que se engraça em uma flor
e leva a semente
que nele ficou.
e assim,
relações acontecem.
flores
frutos
podem ser espalhados
admirados
desfrutados.
e o sumo,
apreciado.

Jessika de Sousa Macedo

sábado, 24 de fevereiro de 2024

tempo de alguém




não me basta ser compreensível 
escutar apenas a sua humanidade
enquanto minha mente vagueia
loucamente ansiando por suas mãos.
onde fica a minha humanidade?
tão ignorada e violentada.
apenas um toque.
apenas um olhar.
apenas um rastro de humanidade
faria minha mente se acalmar.
não me basta ser compreensível 
já não me basta mais.


Jessika de Sousa Macedo

quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

algoritmos - onde está o foco?

a tempos não vejo mais sentido na vida.
e ainda continuo aqui.
fazendo todos os dias em que acordo
aquilo que a vida me pede.
tarefas, obrigações, planejamento mínimo, ser útil.
a tempos não sei mais me divertir.
pousou em mim uma seriedade
que deixam meus movimentos pesados.
nem a leveza do meu corpo físico
miúdo tem influência em meus passos.
e assim tem sido todos os dias ao acordar.
tentei me divertir, me distrair
e parece que tem algo encrustado que me aperta junto a gravidade.
já não basta ela me pressionando?
ainda vejo a beleza das coisas externas, dos movimentos internos, dos aprendizados diários.
ainda me surpreendo com um pássaro, ainda quero sair correndo e me jogar ‘nos braços’ de uma árvore, ainda me apraz a companhia silenciosa dos animais, ainda me empolgo em uma conversa-em uma descoberta, ainda sinto tesão, ainda gozo.
e ainda assim não vejo sentido. não sei mais agradecer pela vida. não sei mais agradecer por ter acordado.
só não estou mais conseguindo enxergar mais o sentido de eu estar aqui.
e ainda assim continuo aqui.
nesses últimos anos vi a força para além desse corpo, dessa mente.
vi a força do instinto de sobrevivência e do desejo de permanecer.
e não é que queira eu mesma acabar com tudo. enquanto acordar estarei fazendo o que me é exigido. mas não reclamaria se acabasse essa pressão-foco extra.
me desencontrei da graça, do riso frouxo, do relaxamento, da suavidade, da doçura.
será que a reencontro na próxima respiração?

p.s.: não é demais visitar: um médico (ver as vitaminas), um terapeuta/psicólogo/psicanalista, alguma amizade, o lugar onde sua fé/intuição te levar, o conhecimento

Jessika de Sousa Macedo